Páginas

Páginas aconselhadas

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Entrevista com Jorge Canelhas (Retro Review)

Quando em 2002, vivia lendo e relendo as revistas do passado, sem nenhuma nova publicação no mercado que me excitasse o suficiente para transmitir a sensação das revistas de há uma década atrás, eis que surgiu uma que inovou em relação às publicações existentes.

Pela primeira vez o mundo do retrogaming tinha uma publicação exclusiva. E mesmo sendo um projecto não apoiado por uma editora profissional, foi suficientemente relevante para não cair no esquecimento dos utilizadores dos sistemas do passado, apesar de ter durado apenas cinco edições.

Quando no editorial da última publicação os seus autores, Jorge Canelhas e Ian Gledhill, garantiam a continuidade da revista por muitos anos, eis que a Retro Review deixou de ser publicada. E após alguns anos sem que o site dissesse o sucedido para o cancelamento, decidi contactar o Jorge, e efectuar-lhe uma pequena entrevista para o Planeta Sinclair a fim de desmistificar o mistério do “fim” da Retro Review. A entrevista foi realizada em 9 de maio de 2009.

Entrevista

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Sendo o Jorge e o Ian residentes em países diferentes, como se conheceram e surgiu posteriormente a ideia da concepção da Retro Review?

Jorge Canelhas (Retro Review): 

Começou com um leilão meu de um Timex Computer 2048, o Ian foi o comprador, entretanto fomos sempre mantendo contacto e eventualmente um dia eu desafiei-o a criarmos uma revista sobre os microcomputadores da nossa infância, daí a criar a coisa propriamente dita foi uma questão de tempo. As premissas da revista eram:
1) Ser inovadora ou seja não reciclar material como se via em alguns sites.
2) Ser em Papel, esta era uma condição ‘sine qua non’, queríamos reviver o feeling de ler uma Crash ou uma Zzap! 64, e como não havia nada do género, ao bom estilo de programadores que somos, criámos o nosso projecto.
3) Criar conteúdo actual para computadores de outros tempos, a ‘série’ onde ensinamos a ligar um Amiga à internet é um exemplo disso, e que com esse conteúdo a pessoa tivesse vontade de mexer na máquina em si.
4) Ser criada de modo ´retro’, a revista enquanto foi produzida foi sempre num Amiga 4000, usando o Pagestream 4.
O que não me recordo é se fui eu o o Ian que deu o nome à revista.
Como nota deixo o facto que até hoje eu e o Ian mantemos contacto e até hoje ainda não nos encontrámos pessoalmente.

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Inevitavelmente tenho que focar este assunto: A Retro Review foi possivelmente a primeira revista de multi-formato retro existente. Como reagiram quando a Retro Gamer saiu no mercado auto-intitulando-se a primeira?
Será justo afirmar que a Retro Review foi a primeira revista não profissional e a Retro Gamer a primeira de cariz profissional?

Jorge Canelhas (Retro Review):

Que eu saiba a Retro Review foi a primeira revista multi-formato retro que apareceu e teve alguma divulgação, eu não tenho conhecimento de nenhuma antes dela.
Quando a Retro Gamer apareceu eu fiquei bastante contente ao ver algo assim nas bancas, infelizmente achei-a superficial, mas antes pouco que nada. O conteúdo da Retro Gamer falhava na primeira premissa da Retro Review.
Reacção não tivemos nenhuma, nunca nos chateámos muito por a Retro Gamer se auto-intitular a primeira, creio que é irrelevante, o que sempre ficou foi a sensação de ‘ai se eu tivesse aqueles meios o que eu faria...’

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Esta é uma opinião pessoal:
Sempre achei que a Retro Review era uma revista mais voltada para o utilizador real de sistemas antigos, que queriam tirar partido das máquinas no presente, em oposição à Retro Gamer, que parece “alimentar” o leitor da saudosa nostalgia do passado, mostrando sistemas e jogos antigos e entrevistando velhas glórias da programação, que já pouco sabem ou se interessam por esses sistemas. Concordas com esta opinião?

Jorge Canelhas (Retro Review):

Na mouche! Um dos objectivos da Retro Review era dar vontade de mexer na máquina em si, e não apenas servir de tema para conversa de café sobre a mesma.

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Talvez a pergunta mais esperada pelos antigos leitores da Retro review, e a que me levou a efectuar esta pequena entrevista:
O que aconteceu para a revista ter deixado de ser publicada após a edição do número 5? Uma vez que no editorial dessa publicação, vocês foram peremptórios em afirmar que a revista continuaria por muito tempo.

Jorge Canelhas (Retro Review):


Falta de disponibilidade sobretudo, sempre achámos que a revista tinha uma boa qualidade editorial e se fizéssemos as coisas à pressa não sairia uma Retro Review, mas algo sem espírito e assim mais vale hibernar o projecto, quando houver de novo tempo retoma-se a coisa, deixa ver… daqui a 31 anos devo reformar-me… já faltou mais, a sério, já existe algum conteúdo da RR6 feito mas a revista nunca foi finalizada.

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Haverá a possibilidade de no futuro a Retro Review voltar a ser publicada? Ou renascer num formato virtual mais acessível às massas, como um blogue ou site, mantendo o espírito da revista inicial?

Jorge Canelhas (Retro Review):

Pergunta difícil, é uma ideia mas o formato impresso era uma das virtudes da Retro Review, Blogs etc... já existem muitos e alguns muito bons.

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Consideras o retrogaming como uma moda passageira ditada apenas por utilizadores, que, tendo hoje mais de 30 anos, detém o poder económico de determinar uma tendência de mercado?

Jorge Canelhas (Retro Review): 

Sim, creio que é uma moda passageira que durará algumas décadas, penso que nós os dos anos 70 e 80, fomos os últimos que puderam ter uma ligação forte com seu computador de infância, os PC’s e consolas actuais não têm a personalidade necessária para me fazer voltar a mexer nelas 20 anos depois de se tornarem obsoletos, os jogos são todos os mesmos, não há inovação, é demasiado caro inovar! A era das descobertas da informática (caseira) para já está estagnada, o que aparece é mais do mesmo não há grande necessidade de mais, são as 16 milhões de cores, é o som que não é preciso melhorar etc…etc. É o mundo bege do PC. Pergunto o seguinte: alguém tem o mesmo carinho pelo seu primeiro PC como tem pelo Spectrum?

Mário Viegas (Planeta Sinclair):

Para finalizar: Tens alguma mensagem que gostarias deixar para todos aqueles que foram leitores da Retro Review?

Jorge Canelhas (Retro Review):

Obrigado a todos. E continuem a visitar o site e mandem opiniões sobre o material que lá há, quem sabe um dia não haverá uma surpresa…
Obrigado e felicidades.

Mário Viegas (Planeta Sinclair):


Ora essa, o prazer foi nosso.

Para quem quiser efectuar o download das cinco edições, que também contem bastante informação sobre as máquinas Sinclair, é só visitar o site original em: RETRO REVIEW.

Sem comentários:

Enviar um comentário