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quinta-feira, 8 de outubro de 2020
La Reliquia
Nome: La Reliquia
Editora: NA
Autor: Angel Colaso
Ano de lançamento: 2020
Género: Plataformas
Teclas: Redefiníveis
Joystick: Kempston, Sinclair
Memória: 48 K / 128 K
Número de jogadores: 1
No ano do nosso Senhor 1533
As minhas viagens pela Terra Santa terminaram, e hoje, finalmente, volto ao meu amado Mosteiro de São Camilo. Infelizmente encontrei-o invadido por estranhas criaturas e todos os meus irmãos desapareceram. Não tenho dúvidas de que alguém se apoderou da Relíquia que a nossa ordem guarda há séculos.
De parvis grandis acervus erit
É desta forma que Angel Colaso, também conhecido por Roolandoo, apresenta La Reliquia. Fomos seguindo com toda a atenção o desenvolvimento do jogo feito pelo programador no Twitter. Regularmente foi dando a conhecer à comunidade algumas fases, ou capítulos, como lhe queiram chamar, e a recepção por parte das pessoas foi sempre bastante entusiasta. Aliás, e conforme o autor nos confessou, o número de descargas que o jogo teve foi um verdadeiro sucesso (sabemos o seu número e podemos confirmar que é bastante acima da média).
Também desde cedo percebe que estamos perante temática medieval, quase sempre garantia de sucesso (La Abadía del Crimen, por exemplo). A frase em latim na apresentação já o dá a entender (o seu significado é "das coisas pequenas surgirão as coisas grandes"). Depois, a música do menu inicial e no primeiro capítulo, da autoria de Aleksandr Lihoded, e mais à frente a obra maior de Johann Pachelbel, criam o ambiente perfeito para o jogo. Ao contrário do que é habitual, começamos pela melodia, mas a mesma não deixa ninguém indiferente. Na nossa opinião faz parte das grandes bandas sonoras criadas para os 8 bit.
O segundo aspecto que imediatamente salta à vista para quem experimenta La Reliquia, ou the Relic, se preferirem a versão Inglesa, pois isto há para todos os gostos, só falta mesmo a versão em Latim: os gráficos e cenários. Por razões óbvias, os fundos são quase todos pretos, com excepção daqueles passados debaixo de água. No entanto, tudo o resto é bastante colorido, criando a sensação que estamos dentro de um mosteiro, local onde efectivamente se desenrola o jogo.
Mas também o forte sentido de humor do programador se faz sentir na aventura. Humor negro, diga-se. Irão perceber através de alguns dos ecrãs, assim como no próprio ecrã final.
Ecrã final é algo a que muito poucos poderão gabar-se de lá chegar. Isso porque além de La Reliquia ser bastante difícil, exigindo uma perfeição de tempo e local de salto de arrancar os cabelos, em alguns casos tendo que se evitar inimigos que se deslocam ao dobro da velocidade do nosso personagem (um abade), o próprio mosteiro é um tanto ou quanto labiríntico, recheado de obstáculos mortais e passagens secretas, nem sempre facilmente detectáveis. Outras estão bloqueadas e tem que se encontrar a chave que as permite abrir, mas estas encontram-se sempre em locais muito pouco acessíveis. Parece que tudo está contra nós, até Deus.
Os objectivos também são um pouco enigmáticos, se bem que vão sendo dado dicas ao longo do jogo. Assim, é-nos dito que temos que encontrar as quatro partes de um pergaminho, bem como a relíquia que permite derrotar as misteriosas criaturas que invadiram o mosteiro. O jogo vai-se desenrolando por capítulos, existindo três cujos cenários e inimigos vão variando. Aliás, este é outro dos pontos fortes deste jogo, a diversidade que vamos encontrando ao longo das salas, todas devidamente identificadas com um nome bastante sugestivo.
O primeiro dos capítulos consegue-se terminar com mais ou menos facilidade, bastando para isso estudar o padrão das criaturas. Mas em alguns locais não é possível parar, assim que entramos em novo ecrã, imediatamente alguns inimigos vêm na nossa direcção e é imperativo estar sempre em movimento, não permitindo qualquer estudo atempado das criaturas. Além disso somos um frade, não uma máquina de guerra, portanto a única hipótese é mesmo evitar os inimigos, saltando por cima deles ou encontrando refúgio nas plataformas.
No entanto, quando chegamos ao terceiro capítulo, o nível de dificuldade torna-se diabólico. Por vezes exageradamente, sendo a única pecha que temos a apontar a este excelente jogo. Sabemos que tudo o que vinha dos nossos vizinhos espanhóis, apenas os mais aptos conseguiam terminar, mas quando chegamos aos 40, queremos é sopas e descanso, que é tudo o que não vamos aqui ter. Ora vejamos o que acontece no último capítulo: o chão em muitos locais é feito de lava. Obviamente que não lhe podemos tocar e isso implica saltarmos nas plataformas amarelas, que ainda por cima se movem horizontalmente. Para complicar a coisa, depois de colocarmos o livro sagrado no seu poiso, teremos que subir três ecrãs onde apenas estas plataformas suportam o nosso personagem. Qualquer passo em falso é um salto no vazio, ou pior, em cima de algum dos muitos elementos mortais dos cenários.
Por fim, chegando ao Trono de Fogo, temos que nos ver com três inimigos, ao mesmo tempo apanhando as relíquias que se encontram sempre em locais inconvenientes. Depois de as apanharmos, podemos por fim descansar. Ou não, pois lembram-se do que dissemos atrás: parece que tudo está contra nós e que o humor negro do programador está fortemente presente? Mais não dizemos...
La Reliquia, apesar do seu grau excessivo de dificuldade, podendo levar à frustração os mais beatos, é um exercícios estimulante, muito bem apresentado e cuidado, que nos convida sempre a ver o que a fértil imaginação de Roolandoo colocou nos ecrãs seguintes. Tem a capacidade de nos fazer sempre tentar mais uma vez, mesmo sabendo que são necessárias muitas tentativas apenas para chegar ao terceiro capítulo, quanto mais de o terminar. Será um pecado não o experimentar!
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