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domingo, 28 de fevereiro de 2021

SOS Naufrágio

 

Nome: SOS Naufrágio
Editora: NA
Autor: Libânio Guerreiro
Ano de lançamento: 1986
Género: Aventura de texto
Teclas: NA
Joystick: NA
Memória: 48 K
Número de jogadores: 1

É incrível como ao fim de 35 anos anos ainda andamos a encontrar autênticas pérolas criadas pelos programadores portugueses. Jogos e programas que não ficam a dever nada ao que se fazia lá fora, apenas não tiveram as mesmas oportunidades, muito também por força da exiguidade do mercado português, mas também pela ausência de uma lei anti-pirataria eficaz, que desmotivava os programadores de lançarem os seus programas no mercado nacional, pois tinham a consciência que rapidamente o seu trabalho era copiado, desrespeitando quaisquer direitos de autor e, por vezes, até profanando os próprios jogos, ora aparecendo incompletos nas lojas (manuais, nem vê-los), ou até alterando o nome do seu criador (deparámo-nos com isso quando encontrámos uma cópia de Keops, por exemplo - outra aventura de texto Portuguesa que ainda não foi disponibilizada).

Quanto a SOS Naufrágio, já tínhamos conhecimento da sua existência. Tinha sido capa do MicroSe7e número 37, de Dezembro de 1986 (no separador "Revistas" podem descarregar todos os suplementos). Nesse mesmo artigo era referido outro jogo de Libânio Guerreiro, que também já se encontra preservado. Felizmente o programador ainda tinha as cassetes consigo, enviou-nos, e conseguimos recuperá-los. Continua a faltar o último dos seus jogos, Viagem de Vasco da Gama à Índia. Mais tarde ou mais cedo iremos dar com ele, até porque, pelo menos na cidade de Lisboa, estava presente em algumas escolas na cadeira de História. De qualquer forma isso serão contas de outro rosário, o que aqui nos traz hoje é SOS Naufrágio.

A cassete está gravada dos dois lados. Num deles encontra-se um ficheiro independente apenas com as instruções e desde logo demonstra a apresentação muito cuidada com que o seu autor nos presenteou ao longo de todo o jogo. Ficamos assim a conhecer um pouco a sua história, mas também a lista de alguns comandos, e até algumas dicas (mais dicas encontram-se no artigo do MicroSe7e, não vamos ser desmancha-prazeres).


Encontramo-nos a bordo de um navio em mares tropicais. Mas abate-se uma terrível tempestade, o navio vai parar a mares desconhecidos, e está a afundar-se. Temos que sair rapidamente do navio ou arriscamo-nos a nele perecer. Mas uma coisa é conseguir escapar do navio, outra é sermos salvos. Para isso temos que encontrar as três peças de um receptor, dispostos em outras tantas ilhas recheadas de armadilhas e perigos. Depois de termos todas as peças, podemos contruir um rádio e emitir um S.O.S., esperando que algum navio próximo capte a mensagem e venha em nosso socorro. E a missão ainda não está terminada, pois ainda temos que encontrar um navio que tenha captado a mensagem e seja amigável. Isto porque estes mares desconhecidos estão infestados de tubarões... E de piratas...

Depois das instruções interiorizadas, é tempo de metermos mãos à obra e carregar o jogo. Assim que isso acontece, somos novamente presenteados com o bom-gosto do Libânio. Não só um segundo ecrã, dando o mote para a tarefa que vamos ter em mãos (e dando também algumas dicas importantes, não é por acaso que a Rosa dos Ventos se encontra na imagem), mas também com uma agradável música, uma adaptação muito bem conseguida de Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu), obra de 1917. Sendo uma típica aventura de texto sem gráficos, que por norma já não tem som, estes pequenos "mimos" dão um colorido diferente ao jogo, contribuindo para o tornar mais atractivo. E é um facto, a música fica mesmo na cabeça.


Avisamos desde já, SOS Naufrágio é enorme, com muitas dezenas de locais, muitos objectos para serem utilizados (atenção que existe um limite máximo de itens que podemos carregar) e muitos personagens ao longo do jogo. Traz-nos à memória Amazónia, jogo brasileiro lançado originalmente em 1985 e que teve uma fabulosa reedição em 2020. Quem sabe não possa vir a acontecer o mesmo a SOS Naufrágio, qualidade não lhe falta.

Além disso, o jogo é composto por várias fases, que se distinguem entre si. A primeira, a bordo do navio que se está a afundar, onde todos os minutos contam. Acordamos no nosso beliche, à vista apenas um armário, mas dentro dele um objecto que vai ser muito importante mais à frente. O navio não é muito grande, cerca de dezena e meia de locais, mas também inclui a tripulação, entre os quais um elemento que nos vai acompanhar no resto da aventura, um maníaco psicótico, e um capitão que não é mais que um empecilho. Para conseguirmos sair do navio não vamos necessitar de recolher todos os objectos que nele se encontram, mas se não os levarmos todos, mais à frente ficaremos encravados (dica: são quatro os objectos a serem recolhidos). 

Como o tempo é factor importante nesta fase (se demorarmos muito tempo a recolher os objectos e a sair, o navio afunda-se), aconselhamos numa primeira fase a explorar todos os cantos (tem três andares), mapear, e identificar o local onde os objectos se encontram. Estaremos então em condições de ir para o escaler de salvamento, isso se não tivermos o azar de encontrar o capitão pelo caminho, pois quando isso acontece, um objecto específico é-nos sonegado e escondido num qualquer ponto do navio. 


Passada esta fase com sucesso, segue-se uma outra labiríntica. Estamos agora a bordo de um pequeno bote de salvamento, na companhia de Peter, em pleno mar alto. São mais de duas dezenas de locais, muitos deles a levarem ao mesmo sítio, dificultando a tarefa de quem pretende mapear. É fundamental fazê-lo, doutra forma arriscamo-nos andar às voltas, ou pior, a darmos de caras com os piratas, com as consequências que podem imaginar. Por outro lado, se conseguirmos acostar ao "Mar das Ilhas", podemos então passar a nova fase.

O Mar das Ilhas dá acesso às três ilhas onde vamos encontrar as peças para construir o rádio transmissor. Depois duma primeira fase essencialmente exploratória e onde corremos contra o tempo, de outra labiríntica, entramos numa fase onde o mais importante é a resolução de quebra-cabeças. Cada uma das ilhas tem características e inimigos únicos. Mas em todas sofremos a contrariedade de ficarmos sem barco de salvamento, tendo que arranjar forma de encontrar ou construir um novo. É também nesta fase que vamos necessitar dos objectos que encontrámos a bordo do navio. Esqueceram-se deles? Ups...
 

Só após todas as peças encontradas, chegamos à fase final onde temos então que encontrar o navio de salvamento. Mas até lá vamos perder muitas horas, onde nos vai acontecer com demasiada frequência o que se encontra no ecrã acima. Sim, o jogo é muito difícil, mais uma vez fazendo lembrar Amazónia, e só os mais aptos a sobreviver em condições extremas vão conseguir chegar ao fim. 

Por vezes parece-nos que o teclado é um pouco sensível demais, repetindo letras, mas também apenas experimentámos num emulador. Talvez na máquina real seja menos sensível, facilitando a tarefa, em especial na primeira fase (no navio), onde não convém que nos enganemos a teclar demasiadas vezes. Mas o Libânio também deu uma ajuda, pois é possível usar-se apenas as abreviaturas para executar as acções. A lista de abreviaturas é a seguinte: “ABR", "FEC", "APA", "MAT", "ATA", "EXA", "ENT", "SAI", "LAR", "DAR", "COM", "BEB", "PAR", "CHA", "CAV", "ESC", "DIZ", "LIG", "DES", "FAZ", "CON", "COM", "CHA", "RUM", "ALI", "MAR", "REV", "POR", "ARM", "FAC", "CAI", "COR", "LAN", "BUR", "CAP", "BOT", "DES", "JOH", "PET", "LOU", "CAN", "IND", "PIR", "BAN", "TUB", "LAD", "MAP", "GOR", "HIE", "LOB", "POL", "COB", "TRO", "ESP", "COL". É mais ou menos óbvio a função de cada uma, usem e abusem.

O que aqui leram abriu-vos o apetite para experimentarem o jogo? Esperamos bem que sim, pois o jogo vale realmente a pena ser explorado. Uma pena que tivesse passado praticamente despercebido na altura em que foi lançado, mas ainda vamos a tempo de lhe dar o destaque que merece. Para isso vão-se mantendo atentos, pois brevemente será disponibilizado no local do costume.

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