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sábado, 25 de dezembro de 2021

LOAD "" PLAY - Um conto de Natal

Em 2004 publiquei (num dos meus velhos blogues pessoais) um relato sobre a minha primeira experiência com o ZX Spectrum. Talvez inspirado pelo espírito de Natal do passado, decidi recuperar esse texto muito pessoal acrescentando-lhe alguns acertos [e observações em itálico de um espírito de Natal do presente] para apresentá-lo aos leitores (e demais colegas) do Planeta Sinclair neste Natal (recheado de presentes e surpresas).

LOAD "" PLAY (Parte I)

O dia já ia longo, e estava eu entretido a ver um dos filmes do Columbo quando toca a campainha [adoras o personagem de Peter Falk tal como a tua avó adorava]. Eram os meus tios que me traziam a prenda de anos atrasada. Não que me importasse muito pelo atraso, esperei pelo presente durante meses, mais uns dias após o meu aniversário [pouco antes do Natal] faria pouca diferença.

Abri o presente e tirei de lá uma caixinha de esferovite, onde estava condicionado um ZX Spectrum e respectivo transformador, uns cabos e manuais [e uma revista VideoSpectrum que até hoje guardas]. De um outro saco vinha um novo gravador de cassete mono, tal e qual aquele que tinha visto quando a professora de inglês o trazia para a escola. O computador tinha um cheiro característico de ser ainda novo [relativamente, teve pouco uso da sua anterior dona], e as suas teclas eram de goma, algo que não tinha visto até ao momento. Não era nada parecido com aqueles terminais de ecrã verde-luminoso da repartição [da função pública] onde a minha mãe trabalhava.

Até que nem foi difícil montar o equipamento; as instruções no manual eram bastante claras. Mais complicado foi sintonizar o canal de vídeo do Spectrum. Foi espectacular quando vi pela primeira vez o ecrã inicial que mostrava: © 1982 Sinclair Research Ltd. Já pouco faltava para brincar com o meu primeiro joguito.

E agora? Bem, segundo o que me lembrava das conversas com os meus coleguinhas, era algo sobre load aspas aspas... Como inserir LOAD? Ora bem, vamos começar pela tecla 'L'... Mas? Só teclei em 'L' e apareceu-me LET no ecrã? Terá a haver com o facto de estar a palavra LOAD escrita na tecla 'J'? Não importa, lá consegui inserir o LOAD. Tento pôr as aspas mas só me aparece a letra 'P' no ecrã. No manual lê-se qualquer coisa sobre symbol shift. Sigo as indicações do manual e, óptimo! Tenho agora tudo pronto para pôr o meu primeiro jogo! Ponho uma cassete (pirata!) no leitor de cassetes, e carrego no PLAY.

Começo a ouvir uns sons agudos, mas nada se passa! Será assim mesmo? Não pode, pois a cassete está praticamente a terminar..RAIOS! Tentei várias vezes, mas nada. LOAD "" PLAY. Não consigo. Desligo o cabo de alimentação e volto a ligar. LOAD "" PLAY novamente. E assim foi durante alguns momentos frustrantes. Telefono a um amigo de escola [ainda hoje falas com ele], que me responde: "Tens de carregar no ENTER". Pois eu lá sabia o que era isso! Só tinha lido do manual a parte de instalação.. Enfim, finalmente já era noite quando consigo carregar o primeiro jogo.

LOAD "" PLAY (Parte II)

Uma série de linhas foram aparecendo no ecrã à medida que a cassete avançava, e no momento em que se completava o desenho que estas formavam, uma "mão" invisível encheu o ecrã de cores de uma ponta à outra. Era apenas o ecrã inicial do jogo, que pode ser dispensável para o jogo, mas na altura pareceu-me algo extraordinário [e ainda hoje pensas assim], até porque entretinha durante os longos minutos de carregamento! E a primeira imagem que vejo é uma esfinge egípcia. Humm.. o jogo promete! O nome causa arrepios: Abu Simbel Profanation [até hoje]!

Acontece que tive o [supremo] azar de me calhar um dos mais difíceis jogos que foram feitos para o Spectrum! Com apenas 10 míseras vidas [parece muito, mas não], tinha logo que começar por ultrapassar uma barreira de gotinhas de ácido que caiam numa coluna, usando de uma perícia cronometrada ao segundo. Uma hesitação, por mais pequena que fosse, e azar! Morte instantânea. Lá consegui passar para o obstáculo seguinte que consistia em saltar no momento certo por cima de um pássaro obviamente mortal ao contacto, e cair pelo buraco da agulha sem me espetar contra um tijolo que se movia sozinho.

Agora começava a perceber o que sentia Indiana Jones quando se aventurou por aquelas criptas cheias de armadilhas e artimanhas mortais! Mas para um miúdo que já tinha de estar a dormir, era demais! Mal sabia eu, que o raio do jogo tinha 40 outros penosos e tortuosos níveis [como eras ingénuo].

Os meus pais ainda me deram tempo para carregar mais um jogo: Raid Over Moscow. Não que eu percebesse alguma coisa de política [tinhas duas enciclopédias geográficas juvenis], mas este nome pareceu-me bastante apelativo. E após o carregamento, fui brindado com a demonstração dos níveis do jogo. Para além de poder controlar um caça inimigo em plena Rússia Soviética, ainda tinha a possibilidade de reduzir um edifício (curiosamente parecido com o Kremlin) a cacos, à bazucada [parece que se passou uma eternidade mas tens memórias vivas da União Soviética]!

Só que, mais uma vez, a minha inépcia não me permitiu sequer pilotar o caça para fora do hangar! Raios! Amanhã seria outro dia, e ainda com bastante joguinhos para testar: Green Beret, Who Dares Wins 2, Twister, Maziacs... Certamente mais horas de diversão. E, finalmente, possa dar uso ao livrinho de programação em BASIC que comprei por curiosidade [este livro]. Quem sabe se ainda venho a aprender alguma coisa [sim, aprendeste que programar era difícil mas que não devias desistir]!

6 comentários:

  1. Memórias de infância ,todos temos com o zx e como esses dias parecem tão próximos ,e contudo tão longe...
    Acho que o meu primeiro contato com o zx também foi o de teclas de borracha,seu que era de um tio meu e fritou as Ram devido a jogar chuckie egg 1 e frankie goes to Hollywood. ..mais tarde o meu irmão viria a ter o timex 2048 que durou muitos anos tendo eu chegado a consertar a fonte de alimentação,que também essa queimou devido à jogatina 😊

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    1. O meu nunca queimou mas tive que trocar a membrana do teclado várias vezes!

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  2. Muito fixe, estas memórias.

    Na altura dizia-se que usar computadores com as TVs estragava as TVs (por causa das imagens estáticas, que podiam queimar o fósforo naquela posição), mas os jogos eram tudo menos estáticos :)

    As memórias mais vívidas que tenho eram de eu e o meu irmão levantarmo-nos as 7h da matina, que era a hora que os meus pais saiam para ir trabalhar, para ir jogar,
    Durante o dia revezavamo-nos a jogar, a comer e qualquer outra actividade paralela (WC, etc...), mas o computador parado é que não estava, tal era a sede pelo seu conteúdo.

    A coitadinho do 48K, até fervia.

    O joystick era arrancado constantemente da mesa de vidro, pois não havia ventosas que o segurassem, tal era e emoção da jogatina.

    A uns minutos das 19h30, arrumávamos tudo da sala e íamos para o quarto fazer de "anjinhos", porque os meus Pais não queriam que tivessemos o dia todo "agarrados" ao computador.
    Muitas vezes, estava a porta a abrir e nós a entrar no quarto. ;)

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    1. Outros tempos! :) Hoje as crianças/jovens têm todo o entretenimento na palma das suas mãos, não sabem o que era ter que disputar a televisão com os pais e os avôs eheh

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  3. Mas que maravilosas recordações! Altamente o texto.

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