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sábado, 22 de abril de 2023

Corrida de Caracóis


Nome: Corrida de Caracóis
Editora: Triudus / SEM
Autor: Pedro Osório
Ano de lançamento: 1986
Género: Gestão Desportiva
Teclas: NA
Joystick: NA
Memória: 48 K
Número de jogadores: até 5 em simultâneo
Descarga: aqui

Corrida de Caracóis foi um dos jogos que há muito tempo a comunidade procurava e cuja história merecia ser contada. Depois de muito esforço conseguimos chegar ao jogo, e iríamos então puder confirmar se as nossas expectativas iriam ser satisfeitas, ou se por outro lado, iríamos ter uma tremenda desilusão. Isto porque tínhamos memórias um pouco vagas de o jogarmos em família por volta de 1987. Passaram-se 35 anos, e se bem que a sensação que tínhamos era de um jogo divertido, com algumas semelhanças com o mítico Formula One (CRL), por outro lado tínhamos a consciência que na altura ainda éramos umas crianças. Veremos então como o jogo resiste à memória do tempo.

Carregamos Corrida de Caracóis com a ansiedade no máximo. Depois de lermos pela enésima vez as instruções que estão incluídas no próprio programa, à boa maneira dos piratas nacionais dos anos 80, o jogo entra. Sem qualquer “loading error”, mas também não admira, pois estamos num emulador e a trabalhar com o ficheiro que preservámos. É-nos então solicitado o número de jogadores, entre 2 a 5. Esta opção apenas define o número de jogadores, humanos ou controlados pelo computador, que entram em competição. Logo de seguida, quando definimos os nomes, é possível então escolher contra quantos adversários “reais” queremos jogar (para ser o computador a controlar adversários basta identifica-los com o nome ZX…).

Como estamos na era da World Wide Web e em plena pandemia (na altura em que escrevemos esta review), optámos por fazer um jogo online com um grupo de amigos e família. Jogado individualmente, Corrida de Caracóis é interessante, mas o divertimento é sem dúvida exponenciado quando o fazemos com outros competidores de pele e osso.

Segue-se então a primeira fase: as apostas. Os cinco caracóis estão devidamente alinhados, sendo-nos dada a informação das probabilidades de cada um vencer a corrida, quanto pagam e ainda o prémio concedido no caso de já termos adquirido algum dos caracóis. Sim, o objectivo final do jogo é a aquisição dos cinco caracóis, ou em alternativa levar os concorrentes à falência, e para isso vamos necessitar de alguma sorte, como em qualquer jogo de apostas, mas acima de tudo muita estratégia e capacidade de gestão de recursos. E alguma manha, também, pois quem aposta em último lugar, poderá sempre jogar com as apostas feitas pelos outros concorrentes. São permitidas apostas em até três caracóis em simultâneo, até um valor de 999$00, e nada impede que possamos todos apostar nos mesmos caracóis.

Apostas feitas, vamos à corrida. Agora sim, nota-se a ansiedade em todos os participantes, mais evidente à medida que os caracóis vão lentamente palmilhando terreno (carregando-se numa tecla consegue-se acelerar a velocidade da corrida). Convém aqui referir algumas nuances que Pedro Osório contemplou, apimentando um pouco esta fase. Assim, os caracóis vão-se movendo de acordo com as probabilidades que têm em vencer as corridas. Não quer isso dizer que existem vencedores antecipados, não só porque o factor sorte tem alguma importância, mas também porque durante o próprio jogo existem variáveis que podem contrariar as probabilidades. A primeira é uma meta volante que dá um boost aos três primeiros caracóis que a atravessam. Depois, durante a corrida, vão surgindo aleatoriamente trevos que dão mais alguma força aos caracóis que a comem. Por fim, a última meta volante concede dinheiro a todos os caracóis que a atravessem antes do final da corrida (esta termina assim que o primeiro caracol chegue à meta). Se algum dos caracóis for nosso, então teremos direito a esse bónus. Esta é talvez a fase mais divertida de todo o jogo, um pouco à semelhança do que acontecia em Formula One, quando víamos os bólides a acelerarem em plena corrida.


Corrida terminada é então tempo de se fazer contas à vida. O programa calcula automaticamente os ganhos de cada um, e caso algum jogador tenha mais de 5.000$00, tem a possibilidade de adquirir um caracol, tendo este um custo de 5.000$00. Quando já não existirem caracóis para venda, isto é, os cinco já tiverem dono, o jogador que tiver mais dinheiro em caixa pode obrigar outro jogador a vender-lhe um caracol, sendo que cada caracol vendido vale apenas 2.000$00.

A posse dos caracóis traz várias vantagens. A primeira o prémio já referido para aqueles que atravessam a última meta volante antes da meta. Mas se um jogador apostar no seu caracol (ou caracóis), o próprio valor pago tem um factor de multiplicação associado, conforme o valor da aposta. Por último, não esquecer um dos principais objectivos do jogo: possuir todos os caracóis.


Não nos deixemos enganar. No meio da aparente simplicidade, Pedro Osório conseguiu criar um jogo com grande complexidade, trazendo-nos de imediato à memória o saudoso Formula One, não só pela vertente estratégica associada, mas também pela própria conceção, incluindo a componente visual. E tal como esse, é um jogo para toda a família. Apesar de poder ser jogado por apenas um jogador, é no modo multiplayer que se consegue desfrutar do jogo em toda a sua magnitude. Não se trata apenas de entrar no mundo das apostas, contando que a sorte e os Deuses estejam a nosso favor. É muito mais que isso, pois teremos que fazer uma gestão correcta da nossa equipa de caracóis, tal e qual como se de uma escuderia se tratasse. Além disso, é também importante espreitar e ver o que a concorrência faz, pois estamos numa corrida por recursos, e se conseguirmos ir fazendo melhor que os nossos adversários, ou pelo menos igualá-los se estivermos numa posição de vantagem em termos monetários, então é meio caminho andado para conseguirmos o monopólio dos caracóis.

Corrida de Caracóis não fica assim em nada atrás do que se fazia lá por fora na época. É verdade que não tem a equipa de produção que as editoras Britânicas ou Espanholas tinham na altura, com gráficos e uma animação mirabolantes, nem de forma alguma é pioneiro ou revolucionário naquilo que apresenta, mas tem uma jogabilidade fantástica, cativando-nos de imediato, e é daqueles jogos que carregamos muito frequentemente. Felizmente que está agora acessível para todos, fazendo jus reconhecimento a esta pérola criada por Pedro Osório, que além de dotes musicais ímpares, conseguiu também criar um jogo muito divertido.

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