Nome: Cadê os Artigos?
Editora: Bitnamic Software / Jogos 80
Autor: Filipe Veiga
Ano de lançamento: 2020
Género: Plataformas
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Kempston, Cursor TK
Memória: 48 K
Número de jogadores: 1
Já todos devem ter ouvido falar da célebre revista Jogos 80, dos simpáticos anfitriões Marcus Garrett e Eduardo Luccas, e dos quais alguns dos elementos deste blogue são também fiéis colaboradores. E também já nos acostumámos a habituar a ter jogos inéditos com a revista (as cover tapes). Primeiro foram seis jogos para o ZX81 (aqui), e agora, juntamente com a Edição Especial dos 15 Anos, temos um jogo criado por um membro deste blogue, Filipe Veiga, com música de Pedro Pimenta (também de Planeta Sinclair) e o ecrã de carregamento por parte do português Ricardo Nunes. Além disso, o próprio Marcus Garrett contribuiu para o argumento, juntamente com o Filipe Veiga.
A história é de todo hilariante: oito redactores da Jogos 80, cada um oriundo de uma cidade brasileira, recusam-se a entregar os artigos, tendo-se revoltado contra os editores (folgo em ver que não fui um dos rebeldes). A única maneira de convencê-los a entregar os artigos, sem recorrer a meios de força mais drásticos ou violentos, é, em cada cidade, recolher os nove objectos dispostos pelos diferentes cenários e entregá-los ao respectivo redactor rebelde. Só assim o artigo será entregue.
Para o cumprimento da tarefa podemos escolher um, de dois figurões, sendo esta uma das novidades do jogo. E quem são estes figurões, perguntam vocês? Nada mais nada menos, que:
O simpático Marcus Garrett, figura muito conhecida de todos aqueles que frequentam as redes sociais e que não nos dá um minuto de descanso, sempre com novas e excelentes ideias e que contribuem para manter a chama dos 8 bits viva.
Ou então o Eduardo Luccas, figura mais recatada, pelo menos comparando com o Marcus Garrett. É também mais folgadazão que este último, o que quer dizer que salta menos, mas por outro lado tem mais resistência e move-se mais ligeiro.
Juntos formam uma equipa imbatível, mas infelizmente apenas podemos escolher um deles. Como as características de ambos são diferentes, no fundo isto traduz-se em diferentes níveis de dificuldade. Regra geral, é mais fácil jogar-se com o Marcus, em especial nos cenários que implicam muitos saltos, no entanto, em alguns, utilizar o Eduardo, devido à sua velocidade, simplifica a tarefa.
A possibilidade de podermos jogar com os dois figurões traduz-se em dois jogos diferentes. Se a isso somarmos os lados A e B, facilmente se verifica que existe aqui pano para mangas e que antes de alguém conseguir terminar os dois lados da cassete com cada uma das personagens, terá que suar muito.
Cada um dos lados inclui quatro níveis, correspondentes a quatro diferentes redactores, mas também a quatro locais pitorescos do Brasil, conforme descrevemos de seguida.
Lado A:
- Fase 1 - Curitiba, PR - Flavio Matsumoto (Jardim Botânico).
- Fase 2 - Brusque, SC - Eduardo Loos (Parque Zoobotânico).
- Fase 3 - Ribeirão Pires, SP - Robson França (Estação de trem e Igreja do Pilar).
- Fase 4 - Rio Bonito, RJ - Saulo Santiago (Cachoeira de Braçanã).
Lado B:
- Fase 5 - Belo Horizonte, MG - Marco Lazzeri (Palácio da Liberdade)
- Fase 6 - São Paulo -SP - Victor Vicente (MASP - Museu de Arte de São Paulo)
- Fase 7 - Ribeirão Preto, SP - Emerson Cavallari (Choperia Pinguim)
- Fase 8 - Rio de Janeiro, RJ - Mario Cavalcanti (Arcos da Lapa)
O Filipe Veiga conseguiu recriar de forma bastante feliz cada um destes locais, e se bem que os leitores portugueses possam não os conseguir identificar de forma imediata, os nossos amigos brasileiros seguramente que reconhecerão uma boa parte deles, se não todos.
Em termos de mecânica de jogo, estamos perante um típico plataformer. Em cada nível (ou fase, como lhe queiram chamar), temos que sequencialmente ir recolhendo um objecto, que aparece num ponto específico do cenário, e entregá-lo ao redactor, sendo que só então fica liberto o objecto seguinte. São nove os objectos a recolher em cada fase, e isto num tempo bastante limitado. No entanto, sempre que se entrega o objecto ao redactor, este amolece um pouco e é condescendente connosco, concedendo-nos um pouco mais de tempo, medido pelas barras verticais no cimo do ecrã. O problema é que para evitar que consigamos chegar aos objectos, uma série de personagens bastante familiares do universo brasileiro (quem não se recorda do Saci-Pererê do Sítio do Picapau Amarelo, por exemplo, mas também do Invasor Cachaceiro do Espaço, que veio directamente de Em Busca dos Tesouros, ou da Bruxa do MASP de Avenida Paulista), teimam em ir contra nós, movendo-se em padrões regulares, mas que dificultam a nossa vida. Qualquer toque com eles é fatal, perdendo-se uma das vidas. Felizmente que quando avançamos de nível, as vidas são repostas, aumentando o seu número à medida que vamos progredindo.
Para se conseguir avançar, é então fundamental estudar muito bem o padrão de movimentação dos nossos inimigos. A maior parte das vezes poderemos chegar aos objectos por várias formas, no entanto existe um caminho mais fácil de ser feito. Mas noutros casos, o caminho possível é apenas um, sendo necessário um timing perfeito para se conseguir escapar aos perseguidores.
Os nossos personagens, além de saltarem (e bem o teremos que fazer nas diferentes plataformas), também são ágeis a trepar. Assim, não é de espantar quando se vê o Marcus a subir por uma palmeira, por forma a conseguir chegar ao desejado objecto. E por vezes tem mesmo que planar para lá chegar, num movimento gracioso e muito bem conseguido por parte do Filipe Veiga. Assim, dominar-se a mecânica de salto é meio caminho andado para se conseguir finalizar o nível.
Outra das novidades de Cadê os Artigos é a funcionalidade da palavra-passe. Recordam-se de Match Day II, em que através de uma palavra-passe conseguíamos continuar o jogo no exacto ponto onde tínhamos ficado? O Filipe conseguiu de forma brilhante recriar este sistema. Assim, depois de completarmos o lado A, correspondente aos quatro primeiros níveis, é gerada uma palavra-passe para ser colocada no início do lado B (só o conseguem jogar depois de terem terminado o lado A). Isso permite continuar o jogo no exacto ponto em que tinham ficado, isto é, mantendo a pontuação e o personagem seleccionado no início. Nota máxima para estes pequenos "mimos" com que o Filipe nos brindou.
E até a nível gráfico e sonoro o jogo atinge bitola muito elevada. Desconhecíamos esta vertente gráfica do Filipe, mas a realidade é que os cenários ficaram bastante fiéis ao original, os sprites muito engraçados e também facilmente identificáveis, e o uso das cores excelente. Quanto à música, esta tem a qualidade habitual do Pedro Pimenta, que não é por ser nosso colaborador que o dizemos, mas é já um dos melhores músicos dos 8 bits, com uma progressão fantástica a todos os níveis. Além disso, tanto toca em modo AY ou beeper, conforme o chip esteja presente ou não. O Pedro fez assim duas versões da mesma musica.
E cadê o jogo? Bem, este não é gratuito, e para se ter acesso a ele, pelo menos neste momento, é necessário adquirir a edição especial da Jogos 80 (número 21), embora não esteja descartada a possibilidade de no futuro se adquirir apenas a cassete. Recomendamo-lo fortemente a comprar o pacote completo, não só porque têm acesso a um jogo muito interessante, a todos os níveis, mas porque também ficam com a versão física da revista em vosso poder (o pdf é gratuito).
Estamos assim ansiosos pelo próximo jogo do Filipe. Já sabemos qual vai ser, mas quanto a isso fechamo-nos em copas e ainda vão ter que esperar um pouco para o saber. Mas podemos garantir que a espera irá valer a pena...
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