domingo, 26 de novembro de 2017

Entrevista com Clive Townsend


Marcus Vinicius Garret, um dos fundadores da revista Espectro, entrevistou há uns meses o famoso programador Clive “Saboteur!” Townsend. Esta entrevista exclusiva não chegou a aparecer na revista, mas vamos agora reproduzi-la, assim como o preâmbulo do Marcus, a quem desde já agradecemos a gentileza.

Entrevista

Se você é fã da famosa e popular criação do britânico Clive Townsend, lançada pela Durell Software em 1985, certamente se interessará por saber o que o programador de Saboteur!, o jogo do ninja que percorria intermináveis salas à procura de um disquete especial, tem a dizer sobre o Spectrum Next. Em um bate papo bem humorado com a nossa revista, ele também falou sobre os remakes recentes de Saboteur! e Saboteur II, títulos lançados para PC, Mac e tablets.

Revista Espectro:

Se detalhes técnicos fossem deixados de lado, tais como número de cores simultâneas na tela, quantidade de memória RAM e velocidade de processamento, em outras palavras, se abordássemos o assunto do ponto de vista de um leigo, o que se pode realmente esperar do Spectrum Next?

Clive Townsend: 

Se deixarmos de lado os tremendos avanços técnicos do Next, só o fato de se ter uma máquina em que as pessoas realmente possam programar já é algo muito bom. O Spectrum era a máquina perfeita, era somente um punhado de memória com o qual a gente podia fazer o que quisesse, o que bem entendesse. Em minha opinião, perdemos uma geração de programadores quando os consoles substituíram os microcomputadores, portanto, agora haverá uma chance de que novos interessados por programação apareçam e se desenvolvam. O Next é o sucessor espiritual do Spectrum, acredito realmente que as pessoas farão milagre com ele.

Revista Espectro:

 Há boatos sobre um novo Saboteur!, uma versão refeita para que se aproveitem as novas características gráficas e de processamento do Next. Esta informação procede?

Clive Townsend: 

Sim, existe uma chance de que a versão estendida de Saboteur! seja lançada para o Next. O projecto está nas mãos – mais que capazes – do programador britânico Jim Bagley, o código fonte está sendo convertido para a linguagem Assembly. Naturalmente, os gráficos propriamente ditos também estão disponíveis ao Jim – em especial por causa do remake de Saboteur! que lancei não faz muito tempo. Porém, o novo mapa desse remake é sete vezes maior em relação ao original, então, acho que só o tempo dirá se a versão do Next, em termos técnicos, será viável.

Revista Espectro:

Já que tocou no assunto, comente sobre o tão alardeado remake.

Clive Townsend: 

O novo Saboteur! é, ao mesmo tempo, um remake e uma continuação, assim sendo, falamos de um Saboteur! 1,5. A parte original, digamos, perfaz somente 15% do jogo. O início é idêntico, estamos em 1985, mas as coisas começam a mudar quando você encontra o helicóptero. O código utiliza exactamente a mesma lógica da versão do Spectrum, os gráficos, levemente melhorados, respeitam as limitações daquela era como se rodássemos o jogo em um hipotético “Spectrum 1280 Kb” – e tem até colour clash! O mapa provê o jogador com muito mais salas para explorar e há novos desafios e puzzles. É possível, inclusive, ganhar prémios reais se realizadas certas tarefas e, ao final, o Saboteur vem a conhecer a verdade em relação à sua missão – o que prepara o jogador para o novo Saboteur II, outro remake.

Revista Espectro:

Exato, o remake de Saboteur II saiu há pouco também também, certo? Por favor, comente sobre ele.

Clive Townsend: 

Assim como o remake de Saboteur!, o novo Saboteur II, em uma primeira olhada, faz lembrar bastante a versão de 8 bits do Spectrum, porém, há muito mais do que os olhos vêem. Faz 30 anos que fãs e jogadores questionam-me sobre os mistérios da trama, há muitas curiosidades acerca do jogo, mas saibam que as respostas estão neste remake. A verdade é que ambos os remakes preparam terreno para um Saboteur III...

Revista Espectro:

Além de seus jogos, quais outros títulos, se refeitos no Next, você gostaria de ver?

Clive Townsend: 

Existe o perigo de que, com as capacidades gráficas aumentadas do Next, comecem a ser desenvolvidos “jogos de Amiga” para o sistema, isto é, o charme todo peculiar do Spectrum seria perdido no processo. Eu preferiria ver o poderio extra do Next ser usado para que se melhorassem alguns jogos clássicos de corrida tridimensionais, tais como Out Run. O dimensionamento suave de sprites traria um resultado incrível! Imagino se alguém seria corajoso o suficiente para refazer o Turbo Esprit!

Revista Espectro:

Sabemos que iniciativas semelhantes, em termos de Retrogaming e Retrocomputação, falharam. Um dos exemplos notórios, embora um console, é o Coleco Chameleon. Claro, não há como comparar, mas você acha, levando-se em conta algumas falhas do passado, que a situação será diferente com o Next?

Clive Townsend: 

O Next vai dar certo porque terá LEDs na lateral do gabinete, os programadores poderão controlá-los. Falando sério agora, a divulgação correu super bem e funcionou como uma bola de neve, ela manteve os interessados bem informados com updates contínuos. O projecto está sendo tocado de maneira apaixonada, o dinheiro – quanto dinheiro conseguido em tão pouco tempo! – é só um detalhe. Além disto, ninguém precisou dar adiantamentos para que, no momento seguinte, os donos do projecto, maus elementos, desaparecessem. Aliás, já falei sobre os LEDs? Eu comprei um só por causa dos LEDs!

Revista Espectro:

Se fosse viável ter no Next alguma interface, algum módulo ou periférico impossível – ou não lançado à época – para o Spectrum normal, qual você gostaria de ver?

Clive Townsend: 

Em tese, se o barramento do Next é mesmo igual ao do Spectrum, várias interfaces antigas certamente funcionarão no novo micro. Algo que eu sempre quis é uma interface ou um módulo que contivesse relês e eu pudesse controlá-los via software. Nosso humilde Speccy controlaria, por exemplo, aparelhos que não dispusessem de Bluetooth, tais como motores ou luzes. “Acenda a luz, por favor, Speccy!”. “Por favor, um pouco de chá, braço mecânico!”. Hoje, os LEDs. Amanhã – O MUNDO!

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