Editora: CascaisMicro
Autor: Virgílio Silva e João Costa Pereira
Ano de lançamento: 1986
Género: Aventura de texto
Teclas: NA
Joystick: NA
Memória: 48 K
Número de jogadores: 1
Ainda estamos em choque com o falecimento de Sir Clive Sinclair, ilustre personagem que nos inspirou, assim como a muitas outras pessoas, mas achámos que a melhor forma de lhe prestar homenagem seria fazer uma pequena análise a um jogo no qual o próprio Sir Clive fosse o personagem principal. Talvez a escolha mais óbvia fosse A Day in the Life, um jogo lançado pela Micromega em 1985 (essa mesmo de Death Chase e Full Throttle). No entanto, e dado que Planeta Sinclair é um blogue português, escrito na nossa língua (embora 75% dos leitores não sejam portugueses), optámos por produto nacional. Sim, existe um jogo português, lançado exclusivamente no nosso mercado, que tem como personagem principal precisamente a pessoa que pretendemos homenagear. Por esta altura, 25% dos nossos leitores já devem saber a que jogo nos referimos: Mad’in Ca$hcais...
Durante muitos anos, Mad’in Ca$hcais, da autoria de João Costa Pereira e Virgílio Silva, foi o expoente das aventuras de texto desenvolvidas por programadores portugueses. Conheciam-se muito poucas e, na realidade, até 1986, ano de lançamento deste jogo, tinham sido muito poucas as aventuras criadas, e menos ainda aquelas que se tornaram conhecidas do público. Mesmo as que foram lançadas através da Astor Software, como O Globo da Luz, Jogo de Aventura ou O Segredo dos Templários, todas da autoria de João Paulo Fragoso, passaram praticamente despercebidas. De facto, as aventuras de texto estavam direcionadas para um público-alvo muito específico, sem grandes adeptos em Portugal. No entanto, Mad’in Ca$hcais conseguiu romper um pouco com o paradigma instalado em Portugal, muito por força de uma temática surpreendente e muito bem-humorada, e que serviu como veículo promocional da própria CascaisMicro, responsável pelo lançamento do jogo.
Em Mad’in Ca$hcais assumimos então o papel de Sir Clive Sinclair, que, por ter problemas de visão e ter que usar óculos, não consegue aceder ao código de descodificação que permite carregar o jogo Elite (nota: a primeira versão de Elite, de 1985, necessitava do “lenslock” para se conseguir decifrar o código que permitia carregar o jogo – enquanto a versão posterior para 128K já dispensava este aparelho).
Sir Clive Sinclair dirige-se então a Portugal, o paraíso dos jogos piratas, por forma a tentar obter uma cópia desprotegida. Acorda no seu hotel e, passando por Lisboa e Cascais, tem que conseguir chegar à loja da CascaisMicro, de modo a conseguir finalmente jogar Elite. Pelo meio, muitos perigos vai ter que enfrentar, desde touros enraivecidos a semáforos vermelhos.
A história é bizarra, como se pode ver, mas, além disso, quem completasse o jogo teria acesso a um ecrã final onde era-lhe dado um número de telefone pertencente à CascaisMicro, tendo a possibilidade de ganhar um prémio real, algo praticamente inédito em Portugal (O Globo da Luz também oferecia um prémio à primeira pessoa que o completasse).
O que é certo é que, à conta desta estranha temática e do próprio prémio, o jogo acabou por se espalhar pelo nosso país, tornando-se num dos mais divulgados de meados dos anos 80 do século passado, e ainda hoje uma das aventuras de texto de origem nacional mais conhecidas, pelo menos no nosso país.
Curioso ainda que no ecrã inicial seja referido que Mad’in Ca$hcais foi desenvolvido com o motor The Quill e com o Illustrator. Presumimos que este último tenha sido usado para criar o ecrã de carregamento, pois estamos perante uma aventura de texto sem gráficos. E quando isso acontece, um dos principais factores de sucesso ou de qualidade que permite avaliar o jogo, além dos quebra-cabeças envolvidos, reside nos textos. Ao contrário de outras aventuras como O Globo da Luz, O Segredo dos Templários, ou Talismã, este são mais mundanos, apelando menos ao nível de cultura do jogador. No entanto, nem por isso deixam de ser apelativos, valendo-se de um forte sentido de humor, o que aliás a própria história já o dava a entender.
O próprio desenrolar da acção é mais imediato que nas aventuras referidas, com menos situações labirínticas, sendo mais propício aos aventureiros aprendizes e iniciados nessas lides. Por isso mesmo, é uma aventura que recomendamos a todos, mesmo aqueles que não têm apetência para este tipo de jogos, sendo, a nosso ver, também uma bonita homenagem a Sir Clive Sinclair, que apesar de não ter criado inicialmente o ZX Spectrum a pensar na vertente lúdica, não deixaria de ficar com um sorriso na cara ao ver a criatividade destes programadores portugueses.
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