sábado, 18 de março de 2023

The Saboteur! Story


Nunca imaginaria nos anos 80 que, 35 anos mais tarde, iria estar em contacto directo com um dos programadores mais apreciados da comunidade, nada menos, nada mais que Clive Townsend. Meu e de muita gente, inclusive em Portugal, pois Saboteur foi um sucesso estrondoso em todo o lado. Aliás, uma das memórias mais presentes que em termos pessoais tenho dos anos 80, pelo menos relacionados com o ZX Spectrum, é de ir a um Centro Comercial em Lisboa comprar Saboteur, pouco tempo depois de ver a review (fabulosa) na Your Sinclair. E de como ter ficado maravilhado com a qualidade do jogo. E ainda de ter pulado de contente quando consegui terminar o primeiro nível.

Mais recentemente, aquando do aniversário dos 40 anos do ZX Spectrum comemorados no Museu LOAD ZX em Cantanhede, tive oportunidade de confraternizar com Clive em pessoa. E deu então para ver que estava perante um verdadeiro génio da programação, simpatiquíssimo, humanista, tímido e extremamente modesto. Foi essa a ideia com que sai do evento e mais se confirmou quando li a sua história no livro The Saboteur! Story, editado pela Teknamic, dos nossos colegas e amigos Marcus Garrett e Filipe Veiga. 

Apesar do livro ser bastante extenso (368 páginas), lê-se de uma assentada. O seu conteúdo é verdadeiramente absorvente, recheado de fotografias e desenhos seleccionados pelo próprio Clive, muitos deles nunca antes partilhados, tais como muitas das histórias incluídas. É assim incluído muito material inédito e nem que seja por isso é mais que obrigatório a aquisição do livro.

Mas tudo começa do início, passe o pleonasmo. Depois de um prefácio de Marcus, ficamos a conhecer a infância de Clive, incluindo os seus tempos de escola e os seus primeiros trabalhos de programação. Dai até à sua entrada na Durell é um ápice, pois Clive começou muito cedo a trabalhar com uma das mais míticas software houses do ZX Spectrum. Foi aqui que conheceu outro dos nossos heróis dos videojogos. Referimo-nos a Mike Richardson, autor de, entre outros, Thanatos, Jungle Trouble, Combat Lynx, Scuba Dive ou o fantástico Turbo Esprit. Muitas dicas de programação que Clive apanhou vieram do próprio Mike.

O primeiro período de Clive no ZX Spectrum (até ao seu regresso muitos anos depois) é longo, e cobre desde os seus primeiros trabalhos, o abortado Death Pit (mais tarde recuperado e lançado via Monument Microgames), até aos anos 90 (Garfield: Winter's Tail, por exemplo - ainda ontem colocámos o suplemento d'A Capital com a análise a este jogo). Também não são esquecidos alguns easter eggs relacionados com Saboteur...

Entramos depois no período em que Clive esteve afastado do ZX Spectrum (mas não da programação). Quem me conhece sabe que apenas tenho paixão por este computador e, normalmente, tudo o resto passa-me ao lado. Estava assim longe de imaginar tudo aquilo que Clive fez entre 1990 e o período mais recente. Foram dezenas de programas e jogos para muitos sistemas, muitos lançados oficialmente, outros que nunca chegaram a ser lançados por uma ou outra razão, tendo ainda tempo para, pelo meio, criar uma nova linguagem de programação e cultivar uma forte amizade com o saudoso Andy Remic. Em boa hora o Filipe e o Marcus conseguiram convencer Clive a contar-nos todas estas histórias magníficas, dignas de um verdadeiro gentleman.

Entramos finalmente no último terço do livro. E vamos ser sinceros, foi a parte que mais gostámos, até porque também fazemos parte dela, quer em termos pessoais, quer através do Planeta Sinclair (várias vezes referido no livro) e do próprio Museu LOAD ZX. Cada um deles tem capítulos próprios no livro, desde já ficando o nosso agradecimento a Clive pela cortesia. Já tínhamos referido que era um verdadeiro gentleman, não tínhamos?

É também fácil de ver que Clive enamorou-se pelo nosso país. Existe um capítulo inteiro dedicado a Portugal. Não temos a mínima dúvida que Clive regressará cá novamente. Além disso, o livro refere uma enorme surpresa planeada para um futuro mais ou menos próximo relacionada com Portugal. Não a vamos contar, obviamente, se querem saber terão que ler o livro. Apenas dizemos que será estrondosa!

Esta última parte contém ainda os seus últimos trabalhos, desde o magnífico Deep Cover, um dos melhores jogos de 2021 e que marcou o regresso de Saboteur, até ao seu ecrã de Turtle Tales, um dos jogos desenvolvidos pelos alunos da escola primária de Bearsden, justamente galardoado no GOTY 2021.

The Saboteur! Story é assim um livro fundamental para quem aprecia o ZX Spectrum, Saboteur, os videojogos, a programação, ou apenas porque quer conhecer uma das personagens mais iminentes da cena. Foi tão grande o prazer que tive a ler o livro que, mesmo completamente atolado em trabalho e afazeres domésticos, consegui em dois dias devorá-lo de uma ponta à outra (a palavra é mesmo essa: devorar). Clive, Marcus e o Filipe estão inteiramente de parabéns. É uma obra sublime que vai ficar para a história.

Se estiverem interessados no livro, basta aqui virem. E já agora, onde se encontra ele, no meio de parte da nossa colecção de material do Clive? Desculpem a imodéstia, mas não resisti a colocar esta última foto...

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