terça-feira, 5 de maio de 2020

Pataslocas


Nome: Pataslocas
Editora: Beyker Soft
Autor: Beyker
Ano de lançamento: 2020
Género: Puzzle
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Não
Memória: 48 /128  K
Número de jogadores: 1

Já nos começam a faltar as palavras para elogiar a enorme qualidade da maioria das propostas a concurso na competição BASIC 2020. E o novo jogo de Beyker veio adensar ainda mais a confusão, aumentando as dúvidas em quem será o vencedor. Será que o presumível vencedor antecipado, Wudang, cuja review ainda estamos a preparar, vai pulverizar a concorrência? Ou será que algum dos belíssimos outsiders que correm por fora, como é o caso de Pataslocas, irão cortar a linha da meta em primeiro lugar? Independentemente de quem vença, uma coisa é certa, todos os participantes são vencedores aos nossos olhos, nem que seja pela coragem de criar os seus trabalhos numa linguagem "morta" para muitos...

Ainda antes de experimentarmos Pataslocas, percebemos logo que íamos estar perante um jogo fora do comum. Tudo começa com uma pequena introdução, a criar ambiente para o que se segue, e um estrondoso ecrã de carregamento da autoria de Igor Errazking, que concorre com Andy Green como o melhor desenhador 8 bits da actualidade. A nossa curiosidade iria estar no ponto máximo, não tivéssemos nós assistido à ante-estreia do jogo no programa de Javi Ortiz.

Eugene Pataslocas, o personagem que assumimos, é um ladrão aficionado no boxe, mesquinho, inexperiente e um pouco desajeitado. Depois do último golpe que deu num banco, numa noite particularmente chuvosa, ouviu as sirenes ao longe e entrou em pânico. Pegou em todo o dinheiro que podia e atirou-o para o esgoto, para escondê-lo, caso a polícia o apanhasse. Mas era alarme falso e agora, terminado o susto, vai ter que recuperar os sacos de dinheiro. O problema é que os esgotos encerram muitos perigos e não vai ser fácil recuperar a pilhagem. Pela frente vai encontrar todo o tipo de obstáculos, desde canos velhos e enferrujados que obstruem o caminho, plataformas móveis, todo o tipo de lixo e inúmeras bichezas perigosas que apenas estão à espreita de uma oportunidade para o atacar. Cabe assim a nós ajudar este ladrão de meia tigela a recuperar os sacos de dinheiro e a encontrar a saída do esgoto.


O jogo é composto por cinco níveis de quatro ecrãs cada. Cada ecrã tem um saco de dinheiro que temos que recuperar, pelo que só depois a porta de saída para o nível seguinte fica aberta. À partida parece pouco, pensamos nós. Mas cedo nos desenganamos, pois cada ecrã tem quebra-cabeças específicos para resolver, o que implica corremos os ecrãs para trás e para à frente, à procura da chave que os permite deslindar. E isso tudo num tempo limite muito curto, medido pelo oxigénio disponível (barra no canto superior), pese embora cada nível tenha um ponto específico onde podemos abastecer as nossas reservas desse bem precioso.

Por outro lado, a resolução dos quebra-cabeças específicos reside nas habilidades que possuímos, pois são essas que permitem ultrapassar os obstáculos. Inicialmente não possuímos qualquer capacidade, apenas nos conseguimos deslocar para a esquerda e direita, o que para um ladrão já desajeitado por natureza é muito pouco. E rapidamente iremos verificar que se não adquirirmos mais capacidades, iremos ficar num beco sem saída. Já agora deixamos aqui uma nota: Beyker conseguiu resolver a problemática dos quebra-cabeças de forma brilhante. Não há assim possibilidade de ficarmos de alguma forma bloqueados, existindo sempre uma solução para o problema que enfrentamos, revelando o cuidado que colocou na construção dos ecrãs e dos puzzles.


Então e que capacidades são essas? São seis, e podem ser vistas na figura acima. Respectivamente da esquerda para a direita temos:
  • Elevador: permite subir e descer nas plataformas elevatórias e movimentar-nos nas plataformas móveis.
  • Pular: permite saltar os obstáculos 
  • Punho: permite quebrar os blocos de vidro 
  • Pedra: permite chutar as pedras, fazendo-as cair no piso abaixo e assim eliminar inimigos ou destruir tubos que impedem a passagem
  • Máscara de mergulho: permite atravessar as áreas inundadas (é delicioso ver Pataslocas a deslocar-se debaixo de água)
  • Barra: permite que nos penduremos nos canos, ultrapassando obstáculos específicos 
Estas capacidades vão então sendo apanhadas sequencialmente, cada uma permitindo progredir um pouco mais no nível. O ideal será estudar cada nível em pormenor, por forma a se perder o menos tempo possível à procura da solução dos quebra-cabeças, e para isso existe um mapa que o programador disponibilizou no manual que acompanha o jogo (mais um excelente pormenor).


E vamos agora ao mais incrível. O jogo foi programado em Basic puro! Parece inacreditável, mas é verdade. Como se costuma dizer: "What Kind of Sorcery Is This?"...

Claro que sendo programado exclusivamente em Basic, isso nota-se no movimento de Pataslocas. Não que que de alguma forma diminua a sua jogabilidade, até porque este é um desafio cerebral, não de reacções rápidas, apesar do stock de oxigénio se gastar e exigir rapidez de pensamento. Mas é necessário também algum cuidado na forma como lidamos com os inimigos e alguns obstáculos, pois estão sempre colocados de forma a causar o máximo de dificuldades. Um passo em falso, e levamos uma mordedura fatal de uma serpente, aranha, morcego ou rato, um salto desmedido, e literalmente partimos a cabeça.

Se tudo isso fosse pouco, os gráficos são maravilhosos, deixando-nos mais uma vez a pensar como é que se conseguiu desenhar estes sprites em Basic. Já não bastava os cenários serem extremamente imaginativos e pormenorizados, mas também um uso impecável da cor contribuiu para elevar ainda mais a atractividade deste jogo. O som é que bem, já chega de milagres, não é?

Pataslocas é, sem qualquer dúvida, um dos grandes jogos do ano e este ladrão de meia tigela vai conseguir seduzir mesmo aqueles que não estão muito virados para os quebra-cabeças. Depois de Dungeons of Gomilandia, surge o segundo grande puzzle do ano. Imperdível...

2 comentários:

  1. Muito obrigado pela revisão e pela nota André. Estou tão feliz que você gostou do jogo.
    Um abraço

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    1. Adorei Beyker, não descansei enquanto não o terminei. :)

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