Nome: The Dark Dagger
Editora: NA
Autor: EJVG
Ano de lançamento: 2024
Género: Aventura de texto
Teclas: NA
Joystick: NA
Memória: 128K
Número de jogadores: 1
Descarga: aqui
O multifacetado EJVG, que tanto é capaz de desenvolver de forma perfeita um jogo de plataformas, um quebra-cabeças, ou uma aventura gráfica, está de volta com La Daga Oscura (ou The Dark Dagger, se optarmos pela versão Inglesa). E, desta vez, com uma aventura com um ambiente e cenários magníficos, remetendo-nos para Umberto Eco e uma das suas grandes obras literárias, Il Nome della Rosa, obra esta posteriormente adaptada ao cinema também de forma exímia. Mesmo quem não é adepto do género das aventuras de texto, não vai ficar indiferente a este jogo e à belíssima história e ilustrações que o acompanham.
Falámos em Il Nome della Rosa e não foi por acaso. Tudo gira à volta de Muha Dicramba, o Sacerdote das Trevas, que não é propriamente a mente mais brilhante do templo onde professa a sua religião. De qualquer forma, e na falta de candidatos mais competentes no reino, e já agora um pouco menos desajeitados, Dicramba é chamado por Rector, o reitor do templo, sendo então encarregado de resolver o mistério que envolve o homicídio de um rico comerciante que foi encontrado esfaqueado numa sala completamente fechada, sem janelas, e guardada 24 horas por um servo. Apenas tem uma pista: um estranho punhal encontrado junto ao corpo. No entanto, conta com a ajuda pontual da própria Deusa das Trevas (quando esta está de bom humor, o que não é frequente, diga-se), mas que de alguma forma parece estar envolvida no crime.
A primeira coisa a fazer, depois de conseguirmos sair do poço onde infortunadamente caímos quando tínhamos sete anos (mais à frente irão perceber esta parte), é precisamente ir inspecionar o corpo que se encontra na Villa del Comerciante, local onde Dicambra se refugiava, com medo de ser assassinado, mas em especial examinar tudo o que o rodeia. O quarto tem mais objetos do que aparenta à primeira vista, nem todos imediatamente acessíveis, pelo menos enquanto alguns enigmas não forem previamente resolvidos. Além disso, os próprios empregados da residência, incluindo os servos e a cozinheira, parecem saber mais do que aquilo que contam, em especial o secretário, que após a nossa inspeção ao corpo, parece ter pressa em nos despachar sem mais delongas e em tirar as suas próprias conclusões sobre o mandante do crime.
Depois de sermos convidados a sair da residência, convém apanhar transporte para outros pontos da cidade. O meio mais rápido será o Riksa, uma espécie de tuk-tuk, a pedais conduzido por escravos. Os restantes pontos de interesse incluem o nosso templo (Templo de la Oscuridad), onde podemos encontrar os outros membros da congregação e sem os quais não conseguimos avançar na missão. Mas na cidade também se encontra o Templo de la Muerte, e tal como o nome indica, os seus membros são bastante menos amigáveis. Além disso têm uma tendência para se comportarem como autênticos arruaceiros e bêbados. Terá alguma coisa a ver com o estranho barril do qual os clérigos se vão abastecendo regularmente? E será que se nos aliviarmos nesse barril, terá algum efeito interessante (quase que apostamos que o vão fazer, nem que seja para ver a hilariante resposta).
Convém também inicialmente dar uma volta pelo mercado, cujas sinaléticas dão úteis dicas, assim como pelo porto. Neste, encontram-se alguns marinheiros que, se bem oleados, soltam a língua. Existem ainda outros pontos da cidade que se revelam de extraordinária importância numa fase mais avançada desta aventura.
Ainda não o tínhamos referido, mas o jogo é composto por duas partes, carregadas autonomamente, e apenas corre em 128K (não é de admirar, dado a profusão e qualidade dos gráficos). A novidade é que, ao contrário daquilo que normalmente acontece com os jogos Espanhóis, não é necessário uma password para se aceder à segunda parte, podendo-se imediatamente começar a jogar. De qualquer forma, é de todo aconselhável terminar-se a primeira parte antes se avançar para a segunda, doutra forma irá nos escapar pormenores importantes que permitirão avançar mais rapidamente ou mesmo terminar o jogo.
Depois de completarmos a primeira parte, podemos então avançar para a segunda, e a sensação de déjá vu é recorrente, começando assim que acordamos na nossa cela. Teremos então que continuar a explorar a cidade (alguns locais não estão agora acessíveis), com a novidade de ser de noite. Isso reflete-se nos cenários, que apresentam uma tonalidade condizente com o período do dia em que nos encontramos. Este é apenas mais um dos pormenores deliciosos que EJVG colocou em La Daga Oscura e que nos faz querer explorar cada local como se fosse a primeira vez que por lá estivéssemos a passar.
A ideia à volta do poço onde precisamente começa a aventura também está muito bem conseguida, em especial, quando na pele de observador, assistimos ao que se passou quando tínhamos sete anos. É nessa altura que começamos a perceber na plenitude a magnífica história que envolve La Daga Oscura. De facto, os textos interligam-se de forma brilhante e muito original, e mesmo quando voltamos a locais onde já tenhamos estado, estes nunca se tornam repetitivos.
Outras das vantagens deste jogo é utilizar o parser DAAD. Além de permitir ter cenários deslumbrantes como os que se consegue construir com o GAC, por exemplo, tem como vantagem em relação a este último, permitir textos mais longos. Num jogo com as características de La Daga Oscura, é fundamental proporcionar uma descrição rica dos locais e dos personagens, por forma a conseguirmos recolher o máximo de pistas possível. Os textos são bastante envolventes, contribuindo assim para maximizar o prazer que se retira deste jogo.
Poder-se ia pensar que apenas um candidato a Poirot conseguiria resolver um crime como o que aqui é apresentado. Muito pelo contrário, apesar de alguns puzzles exigirem de nós o uso intensivo das nossas células cinzentas, como diria o famoso detetive, não existem mortes prematuras. Aliás, além da morte do mercador e de uma outra personagem que acontece mais para o final, no que toca ao nosso personagem, e apesar de deambular por vários mundos, este nunca morre. Temos sempre a possibilidade de terminar a aventura, mesmo quando tomamos a opção errada. Assim, La Daga Oscura é também indicado para os principiantes no género, que poderão ter aqui uma ótima oportunidade para se iniciarem neste tipo de aventuras.
Finalmente, nenhum crime seria resolvido se não tivéssemos que apontar o criminoso, não é? Pois, tal e qual como em Frankie Goes to Hollywood, Killed Until Dead, ou outras aventuras com homicídios pelo meio, também neste jogo teremos que acertar no responsável pela morte do mercador, sendo-nos, para isso, dado várias opções. Se já tivermos completado a primeira parte, quando chegamos a esta parte, a resposta será mais ou menos óbvia. Mas o jogo não termina ai, pois ainda há que confrontar o criminoso e passar por algumas peripécias pelo meio, existindo até diferentes formas de se chegar ao fim. Não são finais diferentes, como é norma nas aventuras do género “make your own adventure”, mas anda lá perto.
La Daga Oscura é então uma das melhores aventuras que tivemos o privilégio de jogar nos últimos tempos. Graficamente a fazer lembrar os jogos de Luís Peres, mas os textos remetem mais para as aventuras de Stefan Vogt. É caso para dizer que se consegue aqui o melhor dos dois mundos.





Thank you so much, André. I'm glad to see it translated into Portuguese.
ResponderEliminarTo be honest, I wrote it originally in Portuguese... But I wanted CAAD to have the exclusive :)
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