sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

The Cubic Experience


Nome: The Cubic Experience
Editora: Toku Soft
Autor: David Gracia
Ano de lançamento: 2022
Género: Puzzle
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Kempston, Sinclair
Número de jogadores: 1
Memória: 48 / 128 K
Link para descarga: Aqui

David Gracia, aka Toku Soft regressa com o seu projecto mais ambicioso até à data. Chamemos-lhe "projecto" e não jogo. Não que The Cubic Experience não seja também um jogo, mas é muito mais que isso. É uma verdadeira experiência sensorial, a apelar ao nosso subconsciente e aos nossos medos mais recônditos. Estes escondem-se onde se esperaria: no nosso cérebro, imensa região, ainda mais inexplorada que o Universo. Não é assim de estranhar que juntamente com o ficheiro com o jogo, o programador, e à semelhança daquilo que fez com os seus trabalhos anteriores, tenha incluído alguma material adicional. E este deverá ser visto / lido numa certa ordem.

Comece-se pelo trailer, que visa criar o ambiente e a soturnidade incómoda necessária para se abraçar o que vem a seguir, munindo o jogador com o estado de espírito mais adequado à situação com que se depara (ninguém disse que o jogo teria que ser alegre). Será depois boa altura para se passar a vista pelas instruções (se não as lerem, nem vale a pena avançar, rapidamente irão ficar perdidos). Vão assim ficar a saber o que cada peça representa no enorme tabuleiro de 30 ecrãs (ou níveis). Algumas ajudam-nos, outras nem por isso. Saber distingui-las é fulcral.

Interiorizadas as instruções, está na altura de passar-se para o tutorial, que visa fazer o enquadramento das situações que vamos depois encontrar durante o jogo. É também fundamental passarmos por esta fase, pois vai dar-nos um pouco da experiência que vamos necessitar mais à frente. Começamos assim a perceber na prática o que cada peça e cada inimigo represente verdadeiramente e a forma como devemos lidar com os obstáculos. 

Passado o tutorial com sucesso, estamos então em condições de avançar com o jogo, propriamente dito. Desde logo, e aqui reside uma das poucas lacunas de The Cubic Experience, o grau extremo de dificuldade inicial, não dando sequer tempo para respirar, até porque existe um tempo muito curto para completar cada nível. Quem conhece os jogos de Toku, já sabe o que o espera. Ao pé deste jogo, Abu Simbel é para meninos. Sim, também é exigido pixel perfect, com o agravante de que muitas vezes é às escuras, ou seja, temos que literalmente adivinhar (estimar é uma palavra mais certa, pois existem alguns "medidores" de tempo e posição) o local onde o nosso personagem se encontra. Seria aconselhável um grau de dificuldade em crescendo, mas isso aqui não acontece. É logo a doer desde início. E se por um lado isto vai afastar algumas pessoas, existem outras (masoquistas, certamente), que anseiam sempre pela dor infligida por cada novo jogo de Toku. Não a dor física, obviamente, mas a psicológica...

Por outro lado, os pontos mais forte deste jogo são a sua diversidade e originalidade. Já há muito tempo que não víamos programa tão inovador, o que não é de estranhar, pois vem de uma mente tão complexa e sempre cheia de ideias como a de Toku (preparem-se que daqui a duas semanas sai mais um jogo bastante original, certamente a competir com este pelo Jogo do Mês). The Cubic Experience é também altamente perturbador, e certamente seria isso que o programador queria. É sinal de que atingiu o seu objectivo.

Esteticamente, mesmo trazendo à memória alguns dos trabalhos anteriores deste autor, é talvez o mais simples, mas isso devido às características do próprio jogo. O elemento visual mais importante baseia-se em blocos, mas também na imaginação, isto é, naquilo que não se vê, pelo que Toku optou, e bem, por gráficos um pouco mais básicos, cores, embora garridas, sem serem muito exuberantes ou provocarem confusão visual, mas que se adequam ao desafio com que nos deparamos.

O mesmo se passa com os efeitos sonoros e a melodia que acompanha a acção. Triste, quase hipnótica, cria a disposição perfeita para quem sabe que vai morrer em breve nas armadilhas do subconsciente, vezes e vezes sem conta. É quase uma ode à morte, convidando a deixar o jogo em modo stand-by, apenas deixando correr a música (foi o que nós fizemos, enquanto escrevíamos esta review). Já antes o dissemos nos jogos de Toku, tudo nos faz lembrar uma personagem macabra e polémica: Rudy Ratzinger, ou :Wumpscut:, se preferirem. Tal como Toku, vai brincando e manipulando as emoções e sensações das pessoas.

Assim, The Cubic Experience é, na nossa opinião, o jogo mais bem conseguido de Toku. Sabemos que não vai ser consensual, mas também de certeza que não seria isso a sua intenção....

We have become a mechanical spawn and have been introduced into the human experiment called: The Cubic Experience. Where reality is far from what we can see.

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