sábado, 7 de novembro de 2020

Mr Hair & the Fly


Nome: Mr Hair & the Fly
Editora: Bitmap Soft
Autor: Lee Stevenson
Ano de lançamento: 2020
Género: Plataformas
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Kempston, Sinclair
Memória: 48 / 128 K
Número de jogadores: 1

Nós tínhamos avisado aquando da review de The Hair-Raising Adventures of Mr. Hair: estávamos perante um programador muito promissor e que no jogo seguinte poderia exceder todas as expectativas e aproximar-se do patamar de um John Blythe ou de um Andy Johns. E não nos enganámos, Mr Hair & the Fly, segundo episódio que tem como personagem principal precisamente Mr. Hair, correspondeu por inteiro às expectativas criadas, sendo assim apresentado um dos melhores jogos de 2020 (e preparem-se, pois durante o mês de Novembro as novidades vão aparecer em catadupa).

Se bem se lembram, na anterior aventura deste estranho fio de cabelo, o personagem lutava pela sua liberdade. E aparentemente foi bem sucedido, pois tem agora espaço para se emancipar e partir à exploração do mundo e alcançar locais que antes lhe estavam vedados. Mas para isso tem que encontrar as chaves que permitem abrir novos horizontes (que é como quem diz, ecrãs), assim como recuperar o cálice que uma raça alienígena roubou e que permite abrir a última porta para tudo acabe em paz.

Logo após carregarmos o jogo, verificamos imediatamente que vamos estar perante algo muito especial. O ecrã de carregamento, da autoria de Andy Green, que já tinha sido o responsável no primeiro episódio, é espantoso. Nele conseguimos ver Mr. Hair numa estranha câmara de tele-transportação molecular e ao lado uma outra câmara com uma mosca. Será que Mr. Hair transforma-se numa mosca, à semelhança do que acontece no filme "The Fly" (a obra mais conhecida de David Cronenberg, que sempre teve um fascínio especial por temáticas "gore" - ver "The Naked Lunch", por exemplo)?

Loading Screen carregado e somos presenteados, se estivermos no modo 128K, com a melodia criada pelo Pedro Pimenta. E não apenas uma, ao longo do jogo o Pedro incorporou melodias diferentes, consoante a fase em que estejamos. Aliás, quando chegamos à fase da transformação de Mr. Hair numa mosca varejeira, a melodia muda radicalmente, acompanhando o ritmo frenético e efémero da vida do insecto. E se termos a infelicidade de ficar sem vidas, nada mais apropriado que uma versão de Stayin' Alive, dos Bee Gees. Por outro lado, se vencermos o desafio, comemoramos ao som de Jean Michel Jarre (Oxygene, parte 4).

Mas tudo começa na sala denominada "The Energy Chamber". Existem duas ao longo do jogo, e estas, além de representarem um poiso seguro para Mr. Hair, permitem recuperar os seus níveis de energia, pois ao contrário do que acontecia no primeiro jogo da série, qualquer contacto com os inimigos ou obstáculos tóxicos não rouba imediatamente uma vida, mas sim um pouco de energia, medido por uma barra horizontal no cimo do ecrã. Além disso, as quatro vidas iniciais parece ser o garante de que chegar ao final da missão será coisa simples. Nada mais errado... É rara a sala onde não se perca um pouco de energia, dada a enorme quantidade de inimigos que as patrulham. E como se não bastasse, em alguns pontos movem-se canhões que disparam um laser que se nos atinge rouba mais um pouco de energia na melhor das hipóteses, mas se estivermos em modo "fly", imediatamente caímos, muitas vezes em cima de obstáculos ou inimigos que nos roubam ainda mais energia.


Começamos então a explorar as salas e rapidamente nos apercebemos que existem locais aos quais a nossa passagem se encontra vedada. Para que os possamos desbloquear, temos que ir encontrando as células de energia e as chaves que se encontram em compartimentos para o efeito. Quer isso dizer que existe um caminho pré-definido a ser feito, normalmente não sendo o mais óbvio (e atenção que algumas entradas estão bem escondidas). Além disso, teremos também que ir repetindo os mesmos caminhos vezes sem conta, não só porque temos que ir desbloqueando os acessos através dos objectos que se encontram em salas distantes, mas principalmente porque temos que regressar com muita frequência às câmaras de energia para repor o nível energético. 

Claro que milagres não existem num computador com apenas 48K de memória, ainda mais quando parte dela é utilizada para o motor que permite a criação do jogo, e para se poder ter gráficos esplendorosos como os que aqui encontramos, alguma coisa teria que ficar para trás. Ficou o número de salas, não que sejam poucas, mas de qualquer forma consegue-se correr todas com alguma rapidez (dai até acabar o jogo já é outra história).

Falámos nos gráficos, e essa é outra das grandes evoluções entre este episódio e o primeiro da série. Os cenários, tremendamente coloridos, são do melhor que recentemente se fez para o Spectrum. Os sprites estão agora melhor definidos, com uma quantidade enorme de inimigos, qual deles o mais louco. E a sequência na qual Mr. Hair se transforma em The Fly (ver ecrã acima), é um verdadeiro delírio para os sentidos.

Pode-se também dizer que o jogo é constituído por duas parte, a primeira na qual assumimos a forma de Mr. Hair, com tarefa difícil, mas não impossível, e uma segunda parte na qual podemos voar sob a pele de The Fly. Esta é quase missão impossível, fazendo a sua dificuldade lembrar os jogos espanhóis, ou até aventuras de John Blyte, como Sqij'd ou Rubicon. Claro que para os menos habilidosos pode gerar alguma frustração e desistirem prematuramente do jogo. O nosso conselho é que não o façam, pois vale a pena ir até ao fim. 

Também deixamos algumas dicas que visam facilitar um pouco a tarefa. Assim, a primeira coisa a fazer é ir explorando as salas existentes, numa primeira fase sem grandes preocupações de tentar apanhar os objectos (as células de energia são os primeiros, pois retiram ou colocam plataformas em locais estratégicos que permitem o acesso a novos ecrãs). Deve-se desde logo começar o mapeamento, mas estando com atenção a pontos possíveis de entrada para novas salas (alguns bem escondidos, conforme já referimos). O passo seguinte é estudar o padrão de movimentação dos inimigos. Estes, apesar de parecerem caóticos, têm um movimento padronizado que permite, nem que seja por uma unha negra, passar incólume por eles. Mas atenção, pois alguns apenas aparecem após realizarmos algumas acções. Por fim, deve-se então planear o melhor caminho (ou o possível, muitas vezes) até às células de energia e chaves, sempre tendo em atenção o nível de energia (quando chegamos a metade deve-se pensar seriamente em regressar a uma das câmaras de energia, independentemente do nosso objectivo imediato estar próximo). Seguindo todas estas regras, e com muita perseverança, talvez consigamos chegar ao fim e ouvir, por fim, a ode ao triunfo de Jean Michel Jarre.

Mr Hair & the Fly não existe ainda em formato digital. No entanto, é possível de se obter a versão física via Bitmap Soft, podendo fazer-se aqui a pré-reserva. Aconselhamos inteiramente a fazê-lo, não só porque estamos a ajudar uma jovem software house e um programador que já mostrou a sua valia, mas também porque o jogo é muito, muito bom. Nós iremos seguramente fazê-lo!

2 comentários:

  1. Fabulous Review, Thank you so much, I put my heart and soul into this one 😁

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