The Humans

 Nome: The Humans
Autor: Gabriele Amore, John Davies
Ano de lançamento: 2021
Género: Puzzle
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Não
Memória: 128 K
Número de jogadores: 1

Já há muito tempo que esperávamos pelo golpe de asa de Gabriele Amore. Talvez tenha sido porque se tenha munido da colaboração de John Davies, que aliou à componente técnica na qual Amore é exímio, a criação de cenários muito interessantes, o facto é que desta vez acertou na mouche. Para trás ficaram os trabalhos repletos de bugs, inacabados, com sprites constantemente aos tremeliques, por vezes arruinando aquilo que eram boas ideias. Não que The Humans esteja isento de bugs, também os encontrámos (por exemplo, os sprites das personagens ficarem atascados nos borders do ecrã, ou passarem parcialmente de um lado do ecrã para o lado contrário), no entanto, não interferem minimamente com a jogabilidade. Saúda-se assim o cuidado que Amore depositou neste seu novo trabalho, que faz a devida homenagem a um dos últimos clássicos do Spectrum da primeira época dourada: Lemmings.

Desde já confessamos: nunca explorámos devidamente Lemmings. Depois de The Humans, iremos devidamente fazê-lo, pois o que aqui vimos, gostámos bastante. E a história é muito semelhante, mas ao invés de assumirmos o papel dos pequenos roedores, são seres humanos que temos que salvar (nem que seja um, apenas), pelo meio descartando aqueles que são supérfluos ou que altruisticamente desimpedem o caminho para que os outros possam chegar ao destino final. Altruisticamente é uma maneira de falar, pois eles não se voluntariam para tal tarefa, somos nós que os designamos à força.

A mecânica é muito semelhante a Lemmings. Assim que iniciamos o nível, temos breves momentos para estudarmos o cenário, pois passado um ou dois segundos, os humanos aparecem no ecrã, andando de um lado para outro até encontrarem um obstáculo. Por vezes mortal ou levando a locais onde ficam encurralados, pelo que é fundamental reagirmos rapidamente, sob pena de contribuirmos para a diminuição da população mundial, pelo menos neste videojogo.

Para se conseguir fazer chegar os humanos ao destino final são e salvos, é necessário que alguns deles executem certas tarefas, por vezes sendo depois sadicamente descartados (é a vida...). Para que eles as executem, controlamos os dedos de uma mão, que clicando no humano respectivo, impele-o a executar a acção que tenha sido seleccionada no canto superior do ecrã. Estas podem ser as seguintes:

• Digger: para escavar o chão, permitindo aceder aos patamares inferiores
• Ladder: construir uma escadaria, por forma a aceder a patamares superiores
• Floater: quando os humanos caem no vazio de grandes alturas, esta opção concede-lhes um pára-quedas que permite chegar em segurança ao chão (desde que não caiam nalguma armadilha, evidentemente)
• Stopper: o humano coloca-se como um travão durante algum tempo (sendo depois descartado), impedindo os outros de passarem esse ponto, voltando para trás
• Pickaxe: para escavar as paredes (horizontalmente)
• Climber: permite aos humanos escalarem as paredes
• Suicide: para quando estamos desesperados ou pretendemos acabar mais cedo o nível

É importante ter em atenção o número de acções permitidas. Assim, ao lado das tarefas, no cimo do ecrã, está o número limite de tarefas que poderemos alocar aos humanos. Se esse número chegar a zero, ficamos impotentes para controlar os nossos personagens, normalmente levando a um panorama desolador, que é ver os humanos terem um fim inglório, normalmente suicidando-se em algum obstáculo mortal (nunca se disse que estes humanos tinham QI superior a lemingues).

Felizmente que foi concedida uma outra opção, que normalmente é a primeira que utilizamos: o sinal "-" e "+" no canto superior esquerdo permite diminuir ou acelerar a velocidade com que os humanos se deslocam. Obviamente que se se moverem mais lentamente, teremos mais tempo para conseguir reagir, seleccionando a tarefa mais indicada para cada situação, além de ser também mais fácil fazer o clique no humano correcto. Esta é mesmo uma das poucas lacunas do jogo, pois devido á dimensão dos sprites, nem sempre é fácil conseguir escolher o humano a quem queremos designar uma tarefa, por vezes perdendo-se a possibilidade de completar um nível por pequeno erro de cálculo e falta de destreza nos dedos (literalmente).

Não sendo fácil passar alguns dos 25 níveis deste jogo, seja porque os quebra-cabeças exigem que se pense durante algum tempo na melhor forma de os ultrapassar, seja porque por vezes é exigida uma capacidade de reacção bastante rápida, os programadores concederam (e bem) uma ajuda. Assim, podemos correr livremente cada um dos níveis (teclas "O" e "P" simultaneamente), sem medo de dizimarmos a população de roedores, isto é, humanos com QI de roedores. Não existe número limite de vidas, pelo que temos todo o tempo do mundo para completar o jogo. Alguns dos níveis são verdadeiramente desafiantes (e viciantes), pelo que podem contar com algumas horas para chegarem até ao fim, isto é, se não optarem pela batota.

Os sprites são bastante pequenos, o que não é de admirar, pois o jogo foi desenvolvido com o AGDx mini de Allan Turvey, permitindo muito mais acções no ecrã. Só é pena que não tenha sido utilizado todo o ecrã (levando ao tal bug junto aos borders), não se sabendo se foi intencionalmente, se por limitação do próprio motor.

Assim, este jogo de Amore encheu-nos as medidas. É por uma unha negra que não atinge a bitola de Mega Jogo. A evolução do programador nestes últimos tempo foi muito boa, e se assim continuar, temos a certeza que em breve irá alcançar esse galardão. Para trás ficaram a maior parte dos vícios que levaram a que os seus jogos anteriores não atingissem o nível esperado. Aguardamos agora com bastante expectativa pelo seu próximo jogo, e já agora, porque não trabalhar numa versão melhorada de Moon Ranger, um jogo muito divertido e que apenas não atingiu vôos mais altos, devido aos muitos bugs que continha?