terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Super Enquiry Simulator

 

Nome: Super Enquiry Simulator
Editora: NA
Autor:  David Walford
Ano de lançamento: 2019
Género: Aventura de Texto
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Não
Memória: 48 K
Número de jogadores: 1

Começamos o jogo apenas com a informação de que seria um simulador que nos iria trazer a experiência muito pouco excitante de lidar com burocracia, que com o progredir da nossa história se torna cada vez mais obstrutiva. Pudemos ver logo pela página do autor que possuía uns gráficos bem desenhados, mas a ideia que ficou é a de que seria mais um simulador inútil, apenas uma piada de curta duração ao estilo das que se vêem frequentemente na "Crap Games Competition".

Não podíamos estar mais enganados. Se inicialmente nos parecia apenas mais uma experiência de reduzido interesse, mais tarde e com o avançar do jogo, cada vez mais nos convencemos de que estaríamos mais próximos de um "art game" ao qual a simplicidade da interface, gráficos e sons minimalistas, mas extremamente bem desenhados, ajudaram imenso à experiência.


Ao iniciarmos a nossa experiência, podemos logo escolher no menu duas opções: o modo "simulation" e "arcade". No "simulation", está representado de modo extremamente realista a dificuldade de tentar resolver assuntos burocráticos recorrendo a linhas telefónicas com tempos de espera ridículos (de modo muito semelhante à realidade, devemos dizer). Aqui teremos de estar atentos para que assim que nos atendam a chamada, imediatamente respondermos, caso contrário voltam-nos a colocar em espera.

Não recomendamos de todo este modo de jogo, a não ser que tenham algum desejo masoquista. Já no modo "arcade", os tempos de espera são muito encurtados e podem ser ultrapassados apenas carregando numa tecla, o que ajuda bastante a avançar na história com maior rapidez.


Para não revelarmos muito a história, estragando-vos a experiência, podemos contar-vos que inicialmente sabemos que a reposta a um formulário nosso está demorada, como tal decidimos telefonar para o departamento responsável. Ficamos também a saber que não nos conseguiam ajudar e de que iriam comunicar a situação a um supervisor. Após algum tempo sem qualquer resposta, voltamos a telefonar, descobrimos que a nossa situação foi passada para o departamento de processamento onde nos recomendam falar com o departamento de avaliações e assim sucessivamente.

Depois de uma série de obstáculos que mais parecem ter sido colocados propositadamente para nos fazer desistir, tal como acontece na vida real, decidimos continuar a insistir até não nos ser mais possível fazê-lo por telefone, e é aí que, ao tentarmos ir às instalações destes serviços, entramos numa viagem completamente surreal. Aqui somos confrontados com uma questão - se a burocracia parece ter sido desenhada para nos fazer desistir de tentar resolver um problema, o que acontecerá se continuarmos a insistir até às últimas consequências?


Apenas temos duas opções disponíveis - continuar ou desistir, tal como numa situação real. Lamentamos que a aventura não nos permita mais opções, podendo assim ser criada uma experiência mais envolvente, mas tendo em conta que estamos perante um jogo mais narrativo em que se pretende testar de forma realista a nossa paciência, não podíamos pedir mais.

Ficámos então bastante curiosos com toda esta experiência bizarra, e única até, falando de jogos do Spectrum e decidimos tentar contactar o autor por e-mail, que nos disse então o seguinte (tradução livre nossa): "Foi inspirado pelas muitas horas que passei ao telefone à procura de cartas aparentemente desaparecidas num departamento do Estado, falando com muitas pessoas que me ajudavam (ou não) pelo caminho. Tive dinheiro suficiente para poder suportar as longas demoras, mas há muitos outros que não têm essa sorte. Este jogo não é a história da minha experiência, mesmo antes de se tornar bizarro, mas por vezes a verdade é mais estranha que a ficção."


"O meu plano original era mais fazer um jogo onde o jogador pudesse escolher uma de várias acções, mas na verdade, receio que muitos dos actuais sistemas que lidam com inquéritos e reclamações se tornaram simples testes de resiliência. Acho que este jogo se tornou uma fantasia acerca da conclusão extrema desses sistemas e é de igual modo engraçado e preocupante que outras pessoas o tenham achado realista."

"Já tinha feito mais um jogo de puzzle para o "Mr. Biffo's Found Footage" que é uma estranha série de vídeos de um antigo jornalista de jogos que trabalhava com teletexto. Na verdade, esse jogo apareceu enquanto desenvolvia este e foi feito nalguns meses, enquanto este o foi ao longo de dois anos. Foi divertido fazer algo mais descartável e consegui encontrar um pequeno público, mas então decidi fazer este jogo muito mais acessível."


"Devo creditar tanto a CSSCGC como o Deus Ex-Machina como inspirações. A Crap Games Competition, para além do uso excessivo da palavra "Simulador" desde o seu início, tem alguns excelentes exemplos de conceitos bizarros, muito antes de ser comum falar-se de "Art Games". O Deus Ex-Machina é o original "big-budget art game" (bastante engraçado também) e foi o que me inspirou a trabalhar mais a minha piada, para durar mais de dois minutos."

"Claro que quando jogava no Spectrum no final dos anos 80 e início dos anos 90, ocasionalmente apareciam jogos com conceitos estranhos que surgiam ao acaso em cover tapes de revistas. Quis que o Super Enquiry Simulator parecesse ter sido lançado nessa altura ou até antes, e só agora me apercebo que que os tipos de telefone que achei mais interessantes de usar são desse período."


Só posso concluir afirmando que é um jogo extremamente recomendado, mas será mais adequado para quem está mais familiarizado com "art games" ou jogos mais experimentais pois se procuram um simples jogo "arcade" ou de aventura, este é o seu total oposto.

A história está extremamente interessante e é bastante original, os gráficos são muito simples, mas bastante bem desenhados e com animações muito agradáveis de se ver. A parte sonora é também minimalista mas muito bem executada, temos os sons da marcação dos números no telefone, da chamada em espera, o sinal de sem rede e muitos outros pequenos efeitos sonoros perfeitamente replicados com um detalhe fantástico. Impressiona ver o trabalho que o autor teve nesta parte, recomendamos até a quem tiver interesse a consultar o source do jogo na página do autor, para perceber um pouco mais de como este obteve este resultado.

Só queremos deixar uma última nota de agradecimento ao autor pelo tempo que nos disponibilizou e por ter respondido a todas as nossas questões. Certamente que este jogo não é de todo consensual, mas para quem como nós gosta mais de experiências diferentes e originais, pensamos que é um título essencial e dos mais interessantes que saiu este ano.

Não lhe daremos nota, porque é mais uma experiência interactiva do que um jogo e, como tal, consideramo-lo muito bom dentro do género, mas não podendo ser comparado a projectos com objectivos totalmente diferentes. Avaliá-lo no âmbito de dificuldade, longevidade, jogabilidade, não se aplica neste caso e se o fizesse seriamos sempre injusto, pois ficaria a perder em comparação a outros jogos recentes, mesmo não o merecendo, pois não foi a isso que se propôs.

Fica aqui o link para a página do autor onde o poderão experimentar.

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