Nome: Delta's Shadow
Editora: Sanchez Crew
Autor: Sanchez, ER, n1k-o, Sinc LAIR
Ano de lançamento: 2020
Género: Acção
Teclas: Redefiníveis
Joystick: Kempston
Memória: 128 K / TR-DOS
Número de jogadores: 1
Em primeiro lugar deixamos já um alerta para quem pretender carregar Delta's Shadow: o jogo é enorme, resultado de um árduo trabalho ao longo dos três últimos anos. Tão grande que não irá aparecer em cassete, e tão grande que necessita de ser corrido com o TR-DOS (num Pentagon, por exemplo), ou então ter o DivMMC com ESX-Dos. Correndo no Spectrum 128K clássico, é aconselhável mexer nas configurações, nomeadamente ao nível gráfico, doutra forma reflecte-se negativamente na velocidade de processamento. Daí no menu inicial existirem várias opções que é fundamental alterar se queremos ter um desempenho do jogo minimamente decente nos nossos computadores.
A segunda nota está relacionada com os ficheiros. Quem adquiriu o jogo (versão digital ou física), tem acesso a três versões. A do Spectrum, e que aqui analisamos, a do Spectrum Next (por falta de tempo não temos analisados jogos para esta plataforma), e finalmente para Windows. Neste último modo consegue-se ter algumas opções extras, não disponíveis nas outras versões. É assim aconselhável, antes de se começar a jogar, ler com algum cuidado as instruções, se possível complementando com o vídeo que surge na página da equipa produtora (aqui).
Even though I walk through the valley of the shadow of Delta,
I will fear no Power of Blade!
A mensagem acima surge assim que carregamos Delta's Shadow, remetendo-nos imediatamente para Power Blade (segundo episódio), nome pelo qual este jogo foi conhecido até muito recentemente. Isto porque baseia-se numa saga com o mesmo nome, popularizada na NES, continuando precisamente onde Power Balde 2 terminou. E se bem que assuma a mesma personagem principal (Nova), as diferenças são muitas, com vantagens óbvias para a versão Spectrum, diga-se.
A história revelada, pelo menos inicialmente (já lá vamos), também é muito concisa. Assim, a Transnational corporation Trigon dá continuidade ao trabalho da Delta Foundation e prepara, de forma camuflada, uma nova invasão alienígena. O nosso objectivo é só um, destruir a Corporação e salvar a Terra da ameaça. Dito assim, parece que tudo se resume a um exercício de disparar contra tudo o que se mexe. Também, mas Delta's Shadow é muito mais que isso, o elemento exploratório é muito forte e mesmo depois de jogarmos várias vezes, vamos continuar a encontrar novos elementos e a aceder a novos ecrãs que antes nos tinham escapado. Existem partes do cenário que parecem inacessíveis inicialmente, bem como estrelas colocadas em locais estrategicamente impossíveis de se alcançar. Mas à semelhança de Castlevania, antes de se poder aceder a esses locais, é necessário recolher certos poderes. Esses poderes são obtidos quando se derrotam os "big bosses", na forma de fatos com características e poderes especiais.
E voltando à história de Delta's Shadow, esta é muito concisa (inicialmente), precisamente pelas estrelas que encontramos ao longo do jogo. Quando as recolhemos, podemos então aceder à caixa de mensagens e é-nos desvendado um pouco mais da história. Ficamos a conhecer a origem da ameaça, a nossa missão, os poderes que poderemos obter, as capacidades das unidades inimigas, etc.. E o melhor de tudo é que o jogo vai sendo automaticamente gravado, pelo que quando recomeçamos, as mensagens que já conseguimos descobrir, aparecem automaticamente. Este modo de gravação automática já tinha sido anteriormente utilizado em Aliens: Neoplasma, e embora facilitando um pouco a tarefa, dado a amplitude deste jogo, não lhe retira qualquer interesse (ao contrário do que poderia acontecer em Aliens, que facilitava em demasia a tarefa).
Se jogarmos no nível de dificuldade "normal", é-nos dada a possibilidade de escolher o sector onde queremos começar a missão (existem três principais, e mais alguns "especiais"). Embora se possa começar na ordem que quisermos, é conveniente seguirmos aquela que apenas a experiência irá determinar como mais acertada, tendo em conta a nossa destreza, mas também pela obtenção dos fatos com poderes especiais. Isso porque os sectores têm diferentes características, com cenários muito diversos, e em alguns é necessário determinados poderes para se conseguir aceder aos ecrãs (e estrelas) escondidos. Os fatos servem para isso mesmo, pois permitem-nos voar graciosamente, nadar com mais facilidade, ou colarmo-nos às paredes através de um poderoso íman. Além disso, temos ainda a possibilidade de obter o poder da invisibilidade, muito útil num dos níveis especiais.
Por outro lado, se seleccionarmos o nível de dificuldade "hard", vamos ter acesso a novas salas e funcionalidades. A missão inicia-se desde logo num dos níveis especiais (a viagem de mota), aumentando ainda mais a longevidade do jogo, que se no modo "normal" já era muito acima do normal, no modo mais difícil ainda concede mais motivos de interesse. E embora ainda não tenhamos terminado o nível "hard", consta que depois permite o acesso ao modo "nightmare", com mais extras.
Foquemo-nos então nos sectores tradicionais. Apesar dos diversos cenários, a mecânica é muito parecida ao que já se encontrava em Castlevania a Neoplasma. Muitas plataformas para subir e descer (móveis e fixas), elevadores, paredes e blocos para destruir com o nosso boomerang, uma arma que tem tanto de invulgar, como de eficaz (ou não fosse feito de titânio), e inimigos, muitos e diferentes por todo o lado, cada qual com uma forma diferente de ser eliminado. Nova tem ainda a capacidade de se baixar, ultrapassando assim alguns obstáculos, num efeito exemplarmente bem conseguido. Além disso, pontualmente surgem itens que facilitam a missão, nomeadamente concedendo energia, maior potência da arma, ou mais energia para o fato (esses esgotam a energia, medida numa barra no canto inferior esquerdo).
Estes sectores são também constituídos por vários andares, acessíveis através de portas. Uma delas dá acesso ao laboratório, onde vamos encontrar um dos "big bosses", e que caso seja derrotado, pode conceder-nos mais um dos fatos com super-poderes. Não é obrigatório passarmos por todos os ecrãs para se finalizar a missão, mas é altamente aconselhável, não só por curiosidade natural (quem não quer ver tudo o que se esconde em Delta's Shadow?), mas também porque só assim vamos conseguir revelar alguns dos segredos bem escondidos e perceber o jogo em toda a sua abrangência.
Até aqui tudo mais ou menos equiparado aos já mencionados Castlevania e Aliens: Neoplasma. Mas entram então em cena os tais níveis especiais que falámos e que pelas suas características abrem novos horizontes a Delta's Shadow. Assim, o primeiro deles é o da mota. Nova surge então montado numa potente mota, que vai quase até aos 400 quilómetros hora, e tem que percorrer mais ou menos incólume um percurso, isto é, sem bater nas barreiras de protecção colocadas para dificultar a missão, e já agora sem tocar nas paredes laterais. Quando isso acontece, perde um pouco de energia, quando esta se esgota, o jogo termina (podendo ser recomeçado nessa fase). Embora esta fase não tenha nada que não tenha sido visto em outros jogos para o Spectrum, destaca-se a rapidez e a fluidez dos movimentos da mota ao longo do percurso, conferindo ainda uma diversidade muito desejada (abater inimigos a toda a hora cansa).
A segunda das fases especiais é bastante mais do nosso agrado (na realidade simuladores de carros ou motas não é a nossa praia). Assim, a certa altura assumimos o papel de Jacqueline, especialista em cybersegurança, hacker por natureza, que consegue quebrar a protecção de qualquer computador mais teimoso. Infiltra-se então na sede da Fundação e tem que aceder aos diversos computadores. De cada vez que acede a alguma sala com um novo computador, tem que abeirar-se dele. Nessa altura a barra que mostra o progresso aumenta ligeiramente, desbloqueando também algures um elevador que permite o acesso a novas salas.
O edifício é enorme e repleto de pormenores deliciosos (janelas com vista para a cidade, por exemplo), constituindo um autêntico labirinto. Mas além disso é também não bélico, pois a parceira de Nova não tem nenhuma arma letal com ela. Tem uma arma que apenas atordoa os inimigos (atenção, nem todos os personagens que vai encontrar são inimigos, a experiência irá ditar com quem não tem com que se preocupar), e um protótipo de um fato especial que concede invisibilidade. O fato, tal como o utilizado nos sectores tradicionais, esgota a energia, e a própria arma também a consome. Felizmente que é regenerada automaticamente, pelo que por vezes basta encontrar uma sala segura de inimigos para se conseguir recarregar os índices energéticos sem preocupações de maior. Assim, a principal dificuldade desse nível não são tantos os inimigos, perfeitamente ultrapassáveis ou fáceis de eliminar, mas sim orientarmo-nos no enorme labirinto que é este edifício, com múltiplos elevadores a levar-nos para diferentes partes.
Quanto a pechas, apenas uma: demasiadas teclas. Poder-se-ia talvez resolver este problema fazendo coincidir a tecla de salto com a de subir. Mas reconheça-se, isto é apenas um pormenor, facilmente ultrapassável com a experiência, e que em nada belisca o prazer que se retira deste jogo grandioso.
Falando agora em nome pessoal (os meus colegas de Planeta Sinclair terão seguramente outra opinião), Delta's Shadow, mesmo tendo em conta os muitos e bons jogos criados este ano, nomeadamente nos últimos três meses, foi aquele que mais me cativou. E isto vindo de alguém que nem é tanto adepto deste tipo de jogos, é indicativo do quanto o valorizo. Venha a ser ou não GOTY 2020, é um projecto vencedor e um dos melhores jogos de sempre do Spectrum.
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