quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Cosmic Payback


Nome: Cosmic Payback
Editora: PROSM
Autor: John Connolly
Ano de lançamento: 2020
Género: Acção
Teclas: Redefiníveis
Joystick: Kempston, Sinclair
Memória: 48 / 128 K
Número de jogadores: 1

Em todas as competições para o ZX Spectrum aparece sempre um ou dois jogos que nos deixam de boca aberta de espanto. E isso aconteceu ao quinto jogo que analisámos na Yandex Retro Games Battle 2020, com Cosmic Payback. Já sabíamos que John Connolly tinha conhecimentos e competências técnicas para criar uma obra de génio, mas estávamos mais habituados a vê-lo fazer brincadeiras simples ou jogos para a Crap competition, sem qualquer desprimor para o género, obviamente. Ainda apenas vimos um terço dos jogos que entraram na competição, mas seguramente que Cosmic Payback será um sério concorrente à vitória final (esta review está a ser escrita muito antes de sabermos os resultados). Vamos ao enredo.

Terra, 2562 d.C.

Depois de séculos de guerra e sofrimento, a paz começa lentamente a regressar ao nosso mundo. No entanto, quando tudo parecia estar a entrar nos eixos, surge nova crise, desta vez vindo do espaço sideral. Chegou ao planeta uma frota de naves alienígenas com o objectivo de pilhar todo o ouro existente. A sociedade mergulha então no caos financeiro, os mercados sofrem uma recessão de proporções incomparáveis, a produção cessa por completo, e as pessoas com obturações dentárias (em ouro) ficam desdentadas e a assobiar de lado. Foi então constituída uma força internacional com o objetivo de recuperar o ouro roubado. Para isso, com o pouco que não foi roubado, foi construída uma nave contendo pequenos casulos esféricos ("pods"), que navegam aos saltos na superfície planetária dos invasores. Parece estranho, mas é a única forma de derrotar os alienígenas e recuperar o ouro roubado


A história parece prometedora e quando entramos no menu inicial, mais convencidos ficamos que estamos perante um trabalho muito cuidado. Temos a possibilidade de redefinir as teclas (além da escolha dos habituais joysticks), depois de nos sentirmos frustrados com alguns jogos que utilizavam configurações muito pouco funcionais e mais adequadas a consolas. Mas além disso temos três outras opções, duas que definem o modo de jogo pretendido, e uma para se colocar as passwords que permitem aceder a cada um dos 15 níveis existentes. Se optarmos pelo modo de jogo "arcade", começamos a missão com um número limitado de vidas. Por outro lado, se pretendermos apenas ir testando os níveis, existe o modo "casual", que permite jogar com vidas infinitas, no entanto sem pontuação. 

Cosmic Payback fez-nos lembrar alguns jogos dos anos 80. Graficamente traz-nos logo à memória Plexar ou Trailblazer, mas também Revolution e Bounder. Aliás, nota-se claramente a influência de Costa Panayi (Deflektor, TLL, Highway Encounter, ...), não só nos cenários criados, mas na própria mecânica e movimento do casulo. Este desloca-se aos saltos sobre a superfície do planeta, tendo-se que contar com alguma inércia. Brilhante a forma como o programador conseguiu criar uma rotina que em momento algum, e com gráficos tridimensionais e um scroll muito competente, emperra. Não se espere ver a velocidade diminuir, mesmo quando o ecrã está repleto de obstáculos.  


O objectivo é então levar o casulo até ao portal que permite aceder ao nível seguinte, mas apenas depois de se recolher todo o ouro do planeta (no cimo do ecrã existe um contador assinalando o que ainda falta recolher). No entanto, a tarefa é difícil, muito difícil. Basta dizer que para conseguirmos chegar ao fim do jogo necessitámos de um dia inteiro para o fazer (e 97'44'' de tempo real). E isso porque cada planeta tem características especiais, que se reflectem ao nível do piso. Alguns dos blocos que pisamos desaparecem após ser tocado, pelo que temos que rapidamente saltar para outro bloco, se possível que seja fixo, para conseguirmos recuperar das emoções. Se saltarmos no vazio, o casulo é eliminado, perde-se uma vida, e recomeça-se no início do nível.

Por outro lado, existem muitas zonas com blocos que vão aparecendo e reaparecendo em padrões regulares. Há que estudar muito bem o padrão, por forma a saltarmos nos breves momentos em que os blocos aparecem. Consoante o padrão, existe um truque diferente que permite passá-los, mas muita perícia é exigida, pelo menos até entendermos o padrão. Como diz o ditado, "practice makes perfect", e com a experiência quase que vamos conseguir passá-los de olhos fechados.

Depois surgem os blocos especiais. Os primeiros permitem saltar mais longe e são fundamentais para se conseguir atingir pontos que à partida pareceriam inatingíveis. Os tele-transportadores levam o casulo para diferentes pontos do planeta, não esquecendo que nem sempre acabamos no mesmo lugar. E existem também os interruptores que activam determinados blocos, normalmente em pontos distantes do planeta. Assim, em alguns locais, apenas se consegue passar depois de se activar o interruptor certo, pelo que por vezes se tem que voltar atrás. 


Poder-se-ia penar que os 15 níveis seriam todos muito semelhantes. Nada mais errado, não só os cenários são bastante diferentes, com pisos que constituem verdadeiros quebra-cabeças, mas também existem os níveis especiais. E já agora, cada um tem um nome diferente, desde logo indiciando as dificuldades com que nos vamos deparar. Destacamos assim o nível 7 (Maze of Misdirection), um verdadeiro labirinto de tele-transportadores (tivemos que o mapear até percebermos a sua solução), mas principalmente o último, uma verdadeira corrida contra o tempo e que exige perícia máxima, reações ultra-rápidas e a capacidade de utilizar atalhos para se ganhar tempo (ver ecrã acima).

Tecnicamente, Cosmic Playback está muito perto da perfeição. A jogabilidade é excelente, os gráficos, apesar de monocromáticos, adequam-se ao desafio, os cenários muito bem desenhados, com quebra-cabeças estimulantes, e até a melodia foi pensada ao pormenor, com um tema bastante futurista, mostrando que nada foi deixado ao acaso. Mas acima de tudo, a capacidade viciante deste jogo é excepcional. Basta dizer que esgotámos todo o tempo que tínhamos planeado para o testar (como elemento do júri da competição, tínhamos pouco tempo para avaliar tudo), e mesmo sabendo que teríamos que roubar tempo noutras actividades, não conseguíamos deixar de jogar. Perante tudo isto, não poderíamos deixar de lhe conceder o galardão de Mega Jogo.

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