quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Mitos do ZX Spectrum - Parte 1

A cada nova notícia relacionada com o ZX Spectrum publicada em fóruns, páginas de facebook ou de jornais surge, inevitavelmente, uma grande quantidade de comentários nostálgicos repletos de memórias de experiências pessoais.

Essas histórias da juventude, já pouco nítidas e algo distorcidas pelo passar dos anos, associam-se ao choque tecnológico em comparação com a actualidade, levando muitas vezes a exageros e até a ideias completamente erradas que transformam a agradável experiência de jogar num Spectrum num verdadeiro terror.

Para evitar a propagação de mitos que sabemos estarem completamente errados e que acabam por inadvertidamente afastar tanto os nostálgicos como as novas gerações do mundo Sinclair, pensámos em compilar uma lista de inverdades que são propagadas por toda a internet pela comunidade portuguesa.

Iremos corrigir estas afirmações apresentando factos que as desmentem e tentaremos explicar porque, na nossa ideia, surgiram na época.

Mito nº 1

"Claro que o Paradise Café não era o único jogo  à escolha mas tinha aquela graça por ser o primeiro e único jogo Português do ZX Spectrum"

Fonte: https://fnintendo.net/xenforo/index.php?threads/spectrum-paradise-caf%C3%A9.1477/page-2

Para começar, sabemos já que os primeiros jogos da década de 80 surgiram para o ZX81, antes ainda do lançamento do Spectrum.
Falamos de Bala, Laser e Galo de José Oliveira que até nem foram os únicos a ser desenvolvidos em território nacional para este computador...


Quanto ao caso do Spectrum, o primeiro registo de que dispomos referencia José Oliveira (o mesmo do ZX81) que criou J.I.M. (Jogo de Inteligência Memórica) logo em 1983.
Também sabemos que o Paradise Café não é o único, algo que tem sido provado todas as semanas por este blogue. Criaram-se centenas de jogos em Portugal para a máquina de Clive Sinclair, muitos deles ainda por descobrir. Já temos na nossa lista bem mais de cem, sem contar com as numerosas edições originais lançadas pela Astor Software.

Mito nº 2

"Nada era mais frustrante do que estar meia hora à espera do carregamento do jogo e depois não dava…"

Fonte: https://pplware.sapo.pt/jogos/load-a-era-do-48k/

Este deverá ser o mito mais comum do Spectrum. Frequentemente nos fóruns encontram-se utilizadores que afirmam ter passado horas a ver os jogos carregar, que se referem aos "tempos de espera intermináveis", falam dos jogos que levavam mais de meia hora ou até uma hora para carregar, o que não podia ser mais falso.


Um jogo de Spectrum, dependendo da complexidade pode demorar, em média, entre 5 a 10 minutos a completar o loading. Por vezes, realmente, devido à má qualidade da gravação, era necessário carregar várias vezes, mas numa situação normal nunca ultrapassaria o tempo que indicámos. Excepção seja feita para as compilações de jogos em cassetes de 60 minutos, principalmente caseiras, apesar de também existirem algumas lojas que as fizessem, em que por vezes para chegar ao jogo desejado era preciso passar por muitos outros jogos.
Para quem tinha leitor de cassetes com contador esta tarefa era facilitada, pois bastava assinalar o ponto onde começava o jogo e a cada nova sessão avançar diretamente até aí, mas se não tivessem essa possibilidade, aí sim teriam de esperar pelo carregamento de todos os jogos até ao desejado.

Talvez por aqui se explique a ideia errada que muitos têm acerca dos tempos de loading, mas tendo acesso a um jogo legítimo facilmente se poderia confirmar a falta de veracidade desta afirmação.

Mito nº3

"Por vezes não carregava à primeira, nem à segunda, mas quando carregava era uma alegria."

Fonte: https://alqueidao.com/2018/02/25/coisas-que-ja-nao-se-usam/

Outro tema comum nas discussões nostálgicas é a memória de que as cassetes não carregavam facilmente, sendo preciso várias tentativas até conseguir alcançar o tão desejado jogo. Isto acontecia realmente na altura pois eram edições piratas e ainda na actualidade acontece com mais frequência tendo em conta a degradação das cassetes, um meio já por si frágil, muito mais ainda numa cassete com 30 anos ou mais...


A explicação mais óbvia é a de que como na época não havia leis que regulamentassem o mercado dos videojogos, as lojas de jogos piratas multiplicavam-se por todo o país e tendo em conta a gigantesca diferença de preços, tornava-se completamente inviável investir na importação e venda de jogos originais em território nacional. Assim, as cassetes eram copiadas muitas vezes "na hora" usando aparelhagens com duplo deck de cassetes, de um modo muito amador, com todas as limitações que isso implica, já para não falar de que com o uso, as cassetes originais - os masters - iam progressivamente perdendo qualidade e as cópias idem. Deste modo não era de admirar que fosse necessário carregar várias vezes, limpar o leitor, ajustar o azimute, até conseguir carregar o jogo com sucesso, algo que com uma cassete genuína, uma edição original de qualidade, nunca (ou muito dificilmente) aconteceria.

Concluímos por agora a primeira parte dos Mitos do Zx Spectrum, prometendo para breve, assim que tenhamos mais material, publicar a segunda parte.

Apenas pedimos que deixem nos comentários outros mitos ou dúvidas que têm em relação ao Spectrum e que pretendam esclarecer (por favor nada muito técnico, pois por agora ainda não temos ninguém na nossa equipa que as saiba responder) e que partilhem este artigo de modo a esclarecer a comunidade e acabar com a propagação destes mitos que agora sabemos estarem errados.

6 comentários:

  1. Os gravadores tinham conta voltas e nas cassetes com 20 jogos podíamos marcar a que momento começava o jogo que nos interessava, não era necessário sempre correr os jogos todos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo comentário, tem razão e já acrescentei essa informação ao post. Mas se excluírmos a hipótese de haver quem usasse essas cassetes com 20 jogos sem ter leitor de cassete com contador, não percebo mesmo como é que podiam dizer que os jogos demoravam meia hora a carregar...

      Eliminar
  2. Nem todas as cópias eram feitas “cassete a cassete”. Existiam programas que com o mînimo de bytes permitiam carregar o conteúdo do jogo para memória e depois fazer uma gravação impecável em cassete. Um dos esquemas de copy protection era o jogo usar toda a memória e impedir que se pré executasse um programa de cópia. Assim muitos jogos demoravam bastante tempo a carregar porque usavam toda a memória disponível.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sei que se usavam programas como o lerm, the key ou os nacionais pirata e copia tudo, mas não falei nisso porque não interessa muito a este artigo. Estava a tentar explicar porque é que as cassetes não carregavam facilmente e a única justificação que encontro é a má qualidade da gravação, algo que muito provavelmente só aconteceria com as cópias feitas cassete a cassete, que pela minha experiência eram também a maioria.

      Eliminar
  3. Eu sofri com carregamento de jogos mas foi uma época em que não sabia regular o cabeçote e o gravador que eu tinha não tinha qualidade.

    ResponderEliminar
  4. Nunca tive esses problemas de carregamento citados. Primeiro, sempre usei o contador para localizar meus programas. Segundo, costumava usar cassetes de boa qualidade. Uma vantagem disto era a possibilidade de usar modos de gravação de velocidades mais rápidas, rotinas disponíveis por exemplo no cp200s... Programas que demoravam alguns minutos na gravação normal carregavam em segundos neste formato.

    ResponderEliminar