domingo, 6 de janeiro de 2019

Mister Kung-Fu


Nome: Mister Kung-Fu
Editora: Uprising Games
Autor: Elton Bird
Ano de lançamento: 2018
Género: Beat 'em up
Teclas: Redefiníveis
Joystick: Sinclair / Kempston
Memória: 48 / 128 K
Número de jogadores: 1

Kung-Fu Master foi o primeiro side-scrolling beat 'em up a agraciar os arcades em 1984. O sucesso estrondoso originou, nos dois anos seguintes, inúmeras conversões para os mais variados microcomputadores e consolas da época. Infelizmente o ZX Spectrum foi brindado, possivelmente, com a pior conversão de todas. A adaptação da U.S. Gold é no mínimo sofrível, para sermos simpáticos, especialmente tendo em conta o nome dos dois programadores envolvidos: David J. Anderson e F. David Thorpe.  Estes autores foram responsáveis por trabalharem em títulos de
qualidade acima da média, como são aos casos de Load Runner, Rambo, Bruce Lee ou Batman.


Todos aqueles que compraram o jogo, na época, sentiram o amargo fel na boca de um jogo lento e de péssima jogabilidade, assolado por uma banda sonora inaudível e pincelado de um horrendo attribute clash. Logo não estranhámos, quando foi lançado o concurso ZX-DEV-MIA-Remakes em 2018, que a Uprising Games decidisse pegar neste mal-amado clássico e dar-lhe uma nova roupagem. E podemos desde já adiantar que o resultado, a nível técnico, está brilhante, mesmo não sendo um jogo perfeito no que toca à jogabilidade.

O jogo é apresentado com uma fluidez desconcertante, um scrolling que parece desenrolar a 50fps, com inúmeros inimigos em simultâneo num ecrã colorido e sem que haja sobreposição de cores, em que o nosso personagem se move com uma suavidade, por vezes de pixel a pixel e não em blocos de 8x8, como é característico em alguns jogos do género que não sejam monocromáticos. Este é talvez o melhor aspecto do jogo, uma vez que foi conseguido alcançar tal proeza em apenas 48 K de memória, tendo apenas ficando comprometido a vertente sonora da melodia AY, que está excelente, tendo o tempo perfeito da música original mas exclusiva do modo 128 K. Mas não fiquem tristes, porque ainda temos os efeitos sonoros do beeper. Infelizmente os mesmos ficam muito aquém do original, e confesso que senti falta daqueles gritinhos estridentes.


Mesmo que o jogo seja brilhante, tecnicamente a vertente gráfica do desenho do personagem e inimigos poderia ter sido melhor escolhida. O tipo de gráficos do original de arcade era uma espécie de mimetização do real, dentro do que era possível em 1984. Nesta versão a escolha do “outline” branco que envolve os personagens remetem a um estilo mais “cartoon” tipo Cobra, algo que destoa do design da versão mãe. 

No que toca à jogabilidade está extremamente rápido, às vezes até rápido demais face ao original, quase não havendo tempo para respirar e fazer uma pausa. A acção do jogo foi refinada para um único botão de golpes em vez dos dois de arcade, que incluía soco e pontapé. Isso faz com que usemos essencialmente o pontapé alto, por ser a combinação mais prática de fogo e direcção. A escolha de um botão faz com que tenhamos mais dificuldade em  nos desembaraçarmos dos inimigos que nos agarrem, e, muito frequentemente, temos dois ou três grudados a nós, sem conseguirmos livrarmo-nos de uma forma rápida, algo que não acontece no original, já que apenas era preciso premir nos dois botões e na posição salto. Outro problema encontrado foi que alguns dos personagens reagem de uma forma muito mais eficaz aos nossos golpes de ataque, chegámos mesmo a ser apanhados por uma faca alta e outra baixa em simultâneo, sem que tenhamos hipóteses de escapar.


Existem cinco andares repletos de inimigos para defrontar e no final de cada um dos níveis, junto de acesso à escada para o piso superior, podemos contar com o típico chefe para derrotar, até salvarmos a donzela da história. Os níveis parecem ligeiramente mais extensos que no original, ou o número de inimigos que nos aparece é de tal forma superior, que parece que demoramos uma eternidade para chegar ao final, tornado a tarefa um pouco estafante e muito difícil, já que é daqueles jogos que quando morremos, voltamos ao início de cada nível.


Em suma, Mister Kung-Fu é um excelente jogo, especialmente tendo em conta que foi programado a pensar nos utilizadores de 48 K, e é sem dúvida uma versão que fica a anos-luz da dos anos 80. Mas analisando o jogo, face a outras conversões que foram feitas no passado, e tendo em conta a sua dificuldade, esta versão ainda fica um pouco aquém das de outros sistemas como as do Commodore 64 ou da NES. 


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