Nome: Neadeital
Editora: Heavy Spectrum
Autor: Matt Birch
Ano de lançamento: 2020
Género: Aventura
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Não
Memória: 128 K
Não há memória de um trimestre tão memorável em termos de jogos como foi o último. Quando se esperaria um ano de 2020 um pouco mais fraco em termos de qualidade relativamente aos anos anteriores, eis que de repente começam a desabrochar mega jogos por todo o lado. E Neadeital é mais um.
Convém também fazer um pequeno enquadramento de como surge este jogo. Assim, depois do sucesso que foi Oure, um jogo que embora tendo algumas limitações revelou o potencial de Matt Birch, obtendo críticas muito favoráveis, tendo-lhe elevado o moral, ainda mais numa altura que passava por uma situação complicada relatada na própria revista Crash. Foi então convidado a criar um novo jogo para a campanha da nova revista, tendo sido o convite prontamente aceite. E desta vez, com bastante tempo pela frente, voltou-se para a Gargoyle Games, responsável por alguns dos seus jogos preferidos (assim como da própria comunidade). Aliás, basta olhar para os ecrãs para se ver a fonte de inspiração: Tir Na Nog.
Para quem quiser dar os primeiros passos em Neadeital, desde já deixamos dois conselhos. O primeiro é antes experimentar Tir Na Nog ou Dun Darach, pois a mecânica é em tudo semelhante. O segundo é ler-se as instruções que acompanham o jogo as vezes que forem necessárias, e não é só pela belíssima história que acompanha Neadeital, ou o mapa que abaixo reproduzimos (na Crash deste ano tem um bastante mais pormenorizado). Mas com este já se consegue perceber as ligações entre as grandes regiões, fundamental para se avançar na aventura.
Se bem se recordam, pelo menos quem conhece os mencionados jogos da Gargoyle, a acção era passada na "Old Britain". Posteriormente, no terceiro episódio da série (Marsport), passou para o futuro. Agora foi dado um passo atrás, pois a aventura decorre numa época anterior à raça humana ter povoada a Terra. E o que significa Neadeital, o título do jogo? Não é mais que o nome dado aos seres que existiam antes dos humanos. Esses seres foram moldadas por divindades, para controlar a magia e canalizar a sua energia para a criação de diversidade. Mas este mundo foi ameaçado quando uma civilização alienígena colocou a Terra no seu raio de acção. Estes seres que povoavam o mundo, os Nephilim, tentaram protegê-lo, sendo a última esperança o próprio Neadeital. É precisamente aqui que a aventura começa.
O jogo foi então desenhado e desenvolvido por forma a criar uma imagem detalhada do mundo pacífico no qual os Nephilim existiam. O nosso personagem, com o nome Celta de Lelak, viaja ao longo deste mundo. Os caminhos seguem as linhas ley, que cruzam a Terra e correm de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Para isso é fundamental da nossa parte um grande sentido de orientação e tomar atenção à bússola que mostra a direção seguida, processo inicialmente muito confuso, mas que se torna quase intuitivo ao fim de algum tempo.
Os cenários apresentados vão também buscar toda a inspiração a Tir Na Nog. No canto inferior do ecrã, a já referida bússola, os objectos que temos em nosso poder, e os elementos que controlamos (naturalmente que são quatro). Na parte central, os caminho que percorremos e o cenário com o qual podemos interagir. E no canto superior, uma belíssima paisagem de fundo, mas com uma surpresa: é dinâmica. Sim, a paisagem vai mudando ao longo das horas do dia, desde o amanhecer, até à noite profunda, num efeito divinal. Mas este efeito tem outra razão de ser que meramente paisagística, pois algumas das tarefas que têm que ser realizadas, apenas o poderão ser em certas horas do dia (ou da noite).
Divindades é o que também não falta a Neadeital, pois são estas que vão "exigindo" a Lelak o cumprimento de certas tarefas. São sempre um tanto ou quanto enigmáticas, mas se dormirmos um pouco sobre o assunto, de preferência no abrigo de uma tenda, talvez alguma luz se faça (dica...). Nem sempre os quebra-cabeças são imediatos, pelo que é necessário pensamento lateral para se conseguir resolver as charadas. Isso, e uma observação atenta dos cenários, pois esses revelam muito do que se pretende. Por exemplo, depois de fazermos uma exploração inicial, chegamos à conclusão que estamos numa ilha, rodeada de água. A água é um dos quatro elementos. Haverá forma de controlarmos esse elemento para nos permitir o acesso a outros locais? Vemos também um peixe a nadar. Será que o conseguimos apanhar? Além disso, vemos altares onde podemos colocar os objectos que recolhemos. Terá alguma utilidade mais que meramente decorativa? É este tipo de raciocínio que termos que fazer se queremos chegar a algum lado.
A única vantagem, e tal como acontecia nos jogos onde se inspira, é o dom da imortalidade de Lelak. Apesar de existirem alguns perigos iminentes, nenhum deles rouba a vida ao personagem. O máximo que acontece é ser recambiado para outro local. A verdadeira dificuldade, e depois de resolvida a questão da desorientação inicial e o correcto manuseio da bússola, será resolver os quebra-cabeças. Por vezes andamos horas a vaguear sem rumo aparente, quando temos uma epifania e conseguimos colocar mais uma peça do puzzle no devido lugar (já dissemos que uma boa noite de sono faz maravilhas?). Há que ter em atenção que os objectos são manipuláveis, pelo que por vezes dão origem a objectos diferentes, se combinados da forma correcta. Além disso, todos os elementos que necessitamos encontram-se na paisagem e caso tenhamos perdido algum no processo de exploração dos cenários, basta voltar ao local onde o recolhemos originalmente para se conseguir recuperar. Afinal de contas estamos a falar de elementos que a natureza dá...
Neadeital não apresenta muitas lacunas, demonstrando a progressão enorme feita pelo programador desde Oure. Se alguma coisa temos a apontar será ao próprio conceito desta aventura que, reconheça-se, não será do agrado de toda a gente. O jogo tem um ritmo lento e por vezes pausado, nomeadamente quando entramos em diálogo com os diversos personagens. Quem procura um jogo de arcada, não será aqui que o vai encontrar. E é muito possível que a dificuldade inicial possa levar muitos a desistir prematuramente, sem sequer ver tudo o que se encontra neste mundo dinâmico e pulsante de energia cósmica, com os personagens e os elementos a mudarem, ajustando-se às nossas acções. Estamos a escrever esta review, horas antes do jogo sair, e apesar de já deambularmos por aqui há muitas horas, ainda não chegámos a 25% da mesma. Isto mostra bem a sua profundidade, mas também o tempo que vai ser necessário despender se queremos chegar ao fim.
Por outro lado, apesar dos cenários serem magníficos, nota-se a falta de uma música ambiente. É certo que esta existe no menu inicial, e a fazer fé no programador, também no final da missão. Mas uma melodia atmosférica, talvez com uma temática Celta, certamente que daria ainda um maior colorido a Neadeital (que felizmente não é monocromático).
Assim, gostámos muito de Neadeital e apenas vamos no início. Seguramente que nas próximas semanas iremos continuar a exploração, pois este jogo é como o algodão: não engana...
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