sábado, 13 de fevereiro de 2021

The Dark: Lost Pages


Nome: The Dark: Lost Pages
Editora: ZOSYA Entertainment
Autor: Oleg Origin
Ano de lançamento: 2021
Género: Labirinto (1ª parte), Shoot'em'Up (2ª parte)
Teclas: Não redefiníveis
Joystick: Kempston, Sinclair
Memória: 48 / 128 K
Número de jogadores: 1

A Zosya bem andava a prometer novidades para breve, mas confessamos que esta nos apanhou totalmente de surpresa. Esperávamos novos jogos a aproveitar o motor de Drift! (está para breve um race'n'chase), ou, quem sabe, um platformer ao estilo de Bonnie and Clyde. O que não esperávamos era a sequela de The Dark, ainda mais da forma como apareceu, com duas fases totalmente distintas, agradando assim a Gregos e Troianos. A primeira delas mais ao nosso gosto, consistindo num imenso labirinto ao estilo de Dun Darach e até de Neadeital. A segunda, muito semelhante ao primeiro episódio, apresentando um FPS ("First Person Shooter"), mas com maiores e mais níveis, contemplando novos inimigos e diferentes missões.

A história de The Dark: Lost Pages é a mesma do primeiro episódio. Vale a pena voltar a carregá-lo, nem que seja para relembrar a incrível forma como a história é contada, ao longo de vários ecrãs com uma qualidade excepcional. Assim, há muitos anos, o exército das forças das trevas cruzou a fronteira da Terra dos Ventos. A maior parte da população foi aniquilada, mas alguns (poucos) conseguiram fugir para as terras do Norte. Entre eles estava uma garota chamada Jane, que anos mais tarde deu à luz Alexander. Jane contou-lhe então a triste história dos seus avós e Alexander, quando se tornou adulto, tomou a decisão de libertar o seu país e vigar o seu povo.

Na primeira fase, curiosamente chamada de prólogo, o objectivo é recolher as nove páginas do Livro da História. Estas páginas, na realidade são mapas que representam os níveis que vão aparecer posteriormente na segunda fase. Mas não se pense que o prólogo é apenas um aquecimento para o FPS. Esta primeira fase constituiria só por si um excelente jogo, mesmo que tivesse sido lançada de forma isolada. Agora espantem-se: este prólogo ocupa apenas 10K de memória (o jogo todo corre nuns aparentemente impossíveis 48K). Se além disso pensarmos que apresenta um scroll imenso, ao longo da aldeia, floresta, cemitério e acrópole, com gráficos fora-de-série (a trazer à memória Valley of Rains), e que a Zosya apenas queria criar um pequeno nível introdutório de acção, então percebe-se como as coisas tomaram uma dimensão completamente inesperada, extrapolando tudo o que se conseguiria imaginar. Apenas para terem uma ideia, para completarmos o prólogo, necessitámos de três dias para chegar ao fim e muitas horas seguidas a explorar todos os cantos e recantos.

Se a dimensão desta primeira fase já constituía um desafio imenso, a equipa da Zosya resolveu fazer mais umas maldades, tornando-a um labirinto imenso, com dezenas de bifurcações, cenários muito parecidos (única forma de se conseguir colocar tanta coisa em apenas 10K), e ainda por cima com algumas zonas apenas acessíveis após se encontrar determinados objectos. Desde chaves, que têm uma utilidade óbvia óbvia, a uma cruz, cuja finalidade percebe-se num dos ecrãs que aqui deixamos, duas estrelas, uma tocha e uma corda (estas têm que descobrir por vós). Sem estes objectos, não se consegue terminar a primeira fase. Ah, e depois temos que encontrar os nove mapas, dispersos por vários vasos e uma arca, curiosamente a que se encontra no ecrã inicial. Vamos dar uma ajuda, um dos mapas encontra-se sempre no mesmo local (este último que referimos), mas os outros vão variando de forma aleatória entre os vários vasos. Sabemos é que, e isso é informação muito importante, dois encontram-se na aldeia, três na imensa floresta, de longe o local mais confuso e labiríntico, dois no cemitério e um na acrópole. Não se pode deixar também de visitar a gruta, mas por outras razões, como irão perceber quando lá chegarem.

Deixamos mais um conselho gratuito: enquanto não se apanha o jeito, ficamos completamente desorientados neste mundo. Obviamente que podemos acabar esta fase da maneira mais difícil, isto é, andando às cegas e através da sorte encontrar os objectos e os mapas. Ou então podemos fazer da maneira mais simples, que é mapearmos cada uma das zonas (preparem muito papel). Estamos ansiosos para ver as maravilhas que vão sair das canetas dos jogadores. Será que vamos ter obras-de-arte como aqueles mapas que nos anos 80 foram lançados para os jogos da Ultimate, Gargoyle ou Beyond? 

Com isso tudo, apenas falta falar de uma coisa nesta primeira parte. Como seria de esperar, existem inimigos que vamos encontrando ao longo do caminho. São cerca de meia dúzia de diversos tipos, uns mais perigosos que outros, quer porque exigem mais estocadas do tridente que nos serve de arma (a única que poderemos ter nesta fase), quer porque são mais rápidos. Aparecem casuisticamente, e se não os eliminamos rapidamente, de cada vez que nos tocam, roubam um pouco de energia. Assim, convém andar pausadamente, única forma de se conseguir ter reflexos suficientemente rápidos para dar conta dos inimigos. Se conseguirmos encontrar os nove mapas, avançamos então para a segunda parte...

A segunda parte remete então para o primeiro episódio, tornando-se num FPS com nove níveis e ainda mais inimigos (notável o dragão cuspidor de fogo, que encontramos em vários níveis). Mas também aqui, nem sempre o mais indicado é eliminar tudo o que aparece à frente. Vamos dar um exemplo: no primeiro nível desta segunda fase temos "apenas" que encontrar uma chave. Esta é colocada aleatoriamente no cenário, embora perto de uma das duas muralhas que o delimitam a Este e Oeste. Estamos em campo aberto, apenas havendo algumas árvores pelo caminho, assim como espigões que convém evitar, de resto podemos movimentar-nos em qualquer direcção. Mas os inimigos são muitos, movem-se de forma bastante imprevisível, se formos tentar eliminar um a um com o tridente, rapidamente somos postos fora de combate (felizmente que de cada vez que se perde a energia, recomeça-se no mesmo nível, mas apenas na página 1 isto acontece). A melhor forma de completar o nível é então tentar prever a movimentação dos inimigos, evitando-os, procurar a chave, e então regressar à base a meio do cenário.

A partir dos nível dois temos acesso a uma arma, tornando muito mais eficaz o processo de eliminar os inimigos (são de três tipos). Os objectivos de cada nível são também diferentes, em alguns, tal como no primeiro, basta encontrar a chave da saída, encontrando antes outras chaves que abrem paredes móveis. Mas outros não são tão imediatos. Num dos níveis temos que encontrar os amuletos que vamos levar para o altar, noutro matar todas as aranhas, um inimigo fabuloso, que requer reflexos rápidos para se conseguir abater (necessita de sete tiros certeiros), e no último, a missão é matar três dragões. Só então Alexander consegue recuperar a terra dos seus avós e fazê-la voltar a ter a glória do antigamente, pelo menos durante alguns séculos.  

Cada inimigo requer uma forma diferente (ou ideal, se preferirmos), de ser eliminado, diminuindo o dano que o nosso personagem recebe. Assim, a melhor forma de eliminar aqueles que se parecem com javalis, é ter muita paciência, atraindo-os para uma emboscada. Em campo aberto são temíveis, pois movimentam-se de forma imprevisível e rápida. Atraindo-os para corredores mais estreitos, mais facilmente os eliminamos. Quanto às aranhas, felizmente que surge uma mensagem avisando que vêm a caminho, quando elas surgem no campo de visão, apenas temos que ir recuando, disparando sem parar na sua direcção. 

Finalmente, os dragões. Não vale a pena estarmos preocupados em nos desviarmos dos círculos de fogo que cospem contra nós. A melhor forma é enfrentá-los de peito aberto, tentando ser o mais rápido e certeiro possível, de modo a diminuir o dano que sofremos. Importante, importante, é não desperdiçar munições, apenas disparar pela certa, pois não existem muitos pontos onde se possa carregar a arma, e se ficarmos dependente do tridente, mais vale recomeçar o nível, mas atenção, pois a partir da página 2, apenas se tem duas tentativas para se completar o nível, de contrário recomeça-se na página 1.

Além das munições, pode-se ainda recarregar a saúde (tem o símbolo de um coração), e a armadura (tem o símbolo do escudo). É fundamental encontra-se o equilíbrio entre as munições e a saúde, por vezes compensando deixar inimigos por abater, mesmo sabendo que mais tarde os iremos encontrar, mas ganhando tempo para se encontrar munições extra.

Os gráficos e cenários, quer do prólogo, quer da segunda fase, são de cortar a respiração. Em momento algum se nota a velocidade abrandar um pouco, mesmo quando o ecrã está recheado de inimigos. Como isto foi possível, não sabemos, mas é caso para perguntar "what kind of sorcery is this?". E como se fosse pouco, o prólogo tem uma bonita melodia, atmosférica o suficiente para se ir apreciando condignamente os maravilhosos cenários. A segunda fase não tem música, mas nem precisava.

Perante tudo isso, não tínhamos outra hipótese senão dar o primeiro "10" do ano. The Dark: Lost Pages será seguramente um dos candidatos ao GOTY 2021 e, tal como nos restantes lançamentos da Zosya, terá honras de aparecer em versão física, com o primeiro episódio no lado A, e este segundo no lado B. Já estamos a salivar, enquanto aguardamos pelos novos jogos desta fabulosa editora, a sair muito em breve.

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