sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Zoinho


Nome: Zoinho
Editora: Bitnamic Software
Autor: Ricardo Nunes
Ano de lançamento: 2021
Género: Aventura
Teclas: Redefiníveis
Joystick: Kempston, Sinclair
memória: 48 K
Número de jogadores: 1

A história por trás de Zoinho é uma fábula. Os personagens e o ambiente são uma colagem de várias ideias alegóricas e algumas mais obscuras, com uns pozinhos psicadélicos. O jardim onde a acção decorre é estilizado, com amplas pinceladas dos jardins clássicos Europeus do período barroco. Quanto ao personagem principal, chama-se Zoinho porque é um ciclope, mas também porque, nos “Jardins” de São Paulo, há muitos “zoinhos” (não esquecer que o autor, Ricardo Nunes, é brasileiro).

Escapar do “Jardim dos Tolos” é o objectivo primordial. Mas o jardim é repleto de perigos e armadilhas. A fuga é um caminho tortuoso e é preciso recolher pelo caminho os objectos necessários, nomeadamente as armas (machados) e o conhecimento (livros). No final vão perceber a razão. Nota adicional: de alguma forma o jogo faz-nos lembrar o clássico The Torture Garden, dos Death in June.

Como o cenário é um jardim clássico, os inimigos mais comuns são diversos animais e plantas, mas com um toque de jocosidade e fantasia. Porquê ter um tanque de carpas, quando se pode ter um tanque de tubarões? Há também elementos sobrenaturais, como homens invisíveis, mortos que saem das covas e árvores-monstro, isso tudo para construir um ambiente fantástico. O "boss" final é um clássico arquétipo do Mal, que só pode ser derrotado com o conhecimento e a coragem.


Zoinho é então uma aventura isométrica 3D, à boa maneira das que a Utimate nos trouxe em meados dos anos 80. Knight Lore é a principal referência, obviamente, até porque foi a primeira e que impulsionou essa editora durante um bom par de anos, como a referência no género. Na altura concebeu um motor para permitir rapidamente desenvolver estes jogos, o Filmation(tm), mais tarde dando origem a uma versão melhorada, Filmation II.

No entanto, o mais surpreendente é que Ricardo Nunes não se socorreu de nenhum motor para criar o seu jogo, e o mais fácil até seria trabalhar com o 3D Game Maker, por exemplo, e que ainda recentemente originou uma série de bons jogos, nomeadamente Em Busca do Mortadela e Topo Mix Game, do nosso amigo e muito talentoso Borrocop. Não, o Ricardo concebeu Zoinho do zero. Não conseguimos imaginar a trabalheira que teve, mas o facto é que como consequência apresenta um jogo inovador e que se distingue das restantes aventuras isométricas. Não fosse apenas por isso, e já teríamos concedido um enorme mérito ao seu criador.


No entanto o jogo é também extremamente cativante e apresenta uma boa jogabilidade, e sabemos como é difícil neste género conseguir conciliar um grafismo atractivo, com puzzles desafiantes, e com uma jogabilidade que esteja ao nível dos outros dois factores. Um dos problemas que muitas vezes deitava abaixo estas aventuras 3D, era a drástica redução da velocidade da acção quando se encontram muitos sprites no ecrã. Isso acontece um pouco aqui, mas não que se torne uma irritação ou mesmo limite a jogabilidade. O facto de o jogo ter sido construído a partir do zero, deverá ter ajudado a conseguir conciliar estas três vertentes duma forma bastante razoável.

Obviamente que não se podia pedir mundos e fundos ao programador. Assim, não se pode esperar a profundidade de um Head Over Heels, Batman ou um Alien 8, por exemplo. Zoinho foca-se muito mais na exploração dos cenários, do que propriamente na resolução de quebra-cabeças, embora existam alguns (por exemplo, como desbloquear alguns portões, ou o que fazer no ecrã final). O principal obstáculo, além obviamente dos muitos inimigos que povoam a floresta amaldiçoada (e é incrível a quantidade de inimigos que se conseguiu colocar em tão pouca memória), é esta constituir um labirinto imenso. E para complicar a coisa, algumas saídas não vão dar ao local esperado, fazendo-nos andar muitas vezes em círculos. Claro que a primeira tarefa é mesmo fazer um mapa, mas desde já se avisa que não vai ser fácil.


Se tivermos arte e engenho para conseguir chegar ao final, vamos deparar-nos então com dois ecrãs um pouco diferentes. Surge aqui a oportunidade de usar a tecla de disparo, caso se tivessem questionado para que é que essa servia. Aliás, mais que ter a oportunidade, é fundamental utilizá-la, ou não iremos longe (ou pelo menos finalizar a aventura). Já agora convém sermos certeiros, pois como irão ver, as munições na sala final são limitadas. Além disso, se no penúltimo ecrã é mais ou menos óbvio o que fazer, o último poderá não ser assim tanto. Não vamos dar mais dicas, terão que descobrir por vós.

O pormenor e dedicação do autor chega ao ponto de no menu inicial contemplar a opção de definição de teclas, dar alguma informação sobre o autor e o jogo, mesmo que um pouco enigmáticas, mas até possibilitar um desafio inteiramente monocromático, para aqueles que não gostam do colour clash. É que os gráficos são muitos jeitosos, sem dúvida, mas não há milagres, e o atribute clash aparece e com força, mas o que não deixa de lhe dar um certo charme.


O menu apresenta também uma melodia agradável, muito embora depois durante o jogo apenas tenha os sons típicos deste tipo de aventuras. Nada das opções que Head Over Heels tinha, por exemplo, com a opção de escolha de música, mas reconheça-se que isto é apenas um pormenor e que rapidamente esquecemos esta lacuna, dada a forma como nos embrenhamos no desafio.

O nível de dificuldade também é o adequado. Algumas aventuras isométricas pecavam por um elevado grau de dificuldade. Isto não acontece aqui. É difícil q.b. para que se torne um desafio estimulante, mas que não leve ao desespero, nem se torne frustrante. Acima de tudo temos aqui um jogo muito equilibrado, com o condão de poder agradar até a quem não gosta do género. E depois, está na nossa língua, o que é sempre de relevar.

O jogo encontra-se à venda via a editora luso-brasileira Bitnamic Software, podendo aqui ser adquirido. Para já apenas ainda no Brasil, mas em breve será alargado a outros mercados, incluindo o Europeu.

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